sábado, 31 de dezembro de 2016

Hora certa

Último dia do ano. Acordo, olho pro relógio com a visão ainda embaçada e percebo que são 5:59. Continuo olhando para a tela e os três dígitos permanecem ali por uma eternidade. Acredito que estou sonhando pois o tempo parou naquele minuto. Fecho os olhos e depois de outra eternidade abro-os. Finalmente são 6:00. No último dia do ano acordo antes das seis e não me incomodo por ter acordado cedo. Só pode ser o último dia do ano! Fico tão contente por ter acordado tão cedo sem motivo e sem me incomodar com isso que vou dormir mais um pouco pra comemorar. Isso é que é terminar o ano revolucionando os hábitos! Bons sonhos pra quem já acordou e pra quem só vai acordar na "hora certa" em 2017!

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Cultura Gourmet

Vivemos uma degustação da realidade com cardápio bem definido. Coxinhas, mortadelas e pamonhas. Isso pra disfarçar o quanto temos sido antropofágicos, daqueles que preferem tudo ao molho pardo.

domingo, 27 de novembro de 2016

Nota 937/16 do diario do Dr. Punk Freud

Dizem que o Século XX acabou ontem com a morte do Comandante.
 Não, o Século XX vem acabando desde a última eleição estadunidense.
E você, em que lugar do tempo você parou entre el Paredon de Fidel e o muro de Trump?

domingo, 20 de novembro de 2016

Inclusão perversa


Pessoal, essa noite eu fui roubado! Levaram tudo! 
Levaram minha consciência, minha alma, só deixaram meu ego em forma de corpo por não ter  valor de mercado...



domingo, 13 de novembro de 2016

Entre o encantamento, o desencantamento e o reencatamento!


Duas questões para perceber até que ponto domingo é dia de descanso. Primeiramente, como equacionar as duas demandas que as sociedades ocidentais estão vivendo cotidianamente e a sociedade brasileira em particular; o foco da política tem que priorizar as minorias de gênero e racial, principalmente, ou deve focar nas questões das classes populares que acabam encontrando respostas imediatas na teologia da prosperidade e na intolerância para com as minorias?  Nessa encruzilhada, quem acredita na diminuição das desigualdades via redução das violências de gênero e racial, da legalização do aborto e das regulação das drogas é posto no outro lado do ringue de quem quer a diminuição da miserabilidade com inclusão no mercado de consumo (consumo apenas, pois inclusão cidadã exigiria boa educação e boa saúde pública, o que está fora de cogitação no momento) utilizando a falsa equação: precarização/terceirização = empreendedorismo. É como se essas duas pautas para minorias e maiorias fossem incompatíveis. Ou é Freixo ou é Crivella. Não há como conciliar essas duas agendas? Não há possibilidade de diálogo? 
A outra questão é menos focada no contexto brasileiro, mas não está desconectada
Quando da votação do Brexit a comunidade  planetária mais progressista ficou tranquila achando que a vitória da permanência do Reino Unido na CCE estava garantida. Deu no que deu. Agora, na eleição estadunidense foi a mesma coisa, os pós -moderninhos tinham certeza da derrota de 
Trump. Esses dois prognósticos equivocados mostram  como a população do hemisfério norte está mais imprevisível do que supõem  os institutos de pesquisa eleitoral e isso reflete uma despolitização em massa ou pelo menos o esgotamento do modelo tradicional de fazer política. Aí surgem brechas que aparentes novidades tratam de preencher e talvez daí tenha saído o êxito inicial do Brexit e de Trump ao explorarem esse vácuo do desencantamento da política. 
No caso do Brasil acontece um desencantamento próximo, pois de outro modo fica difícil compreender a ascensão de Crivella e também de Doria que são extremos opostos ao proposto por Freixo. De um lado, o populismo do bispo que atende às maiorias que não querem perder a chance de se manterem incluídas  no mundo do consumo. Do outro lado, o populismo de um empresário  que pretende assegurar à outra maioria, a dos "privilégios econômicos" dos apreciadores de Romero Brito, a permanência do status quo de modo que nenhuma mudança na CLT possa abalar. O desencantamento brasileiro e mundial desenham essas caras . Ao fim e ao cabo, depois dessas questões postas surge outra: É possível algum reencantamento para que liberdade, igualdade e fraternidade façam parte da mesma bandeira em alguma nação do planeta?

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

domingo, 30 de outubro de 2016

Teoria da racionalidade heideggeriana

Descarte o "penso"
e logo,
 exista!


A Grande Arte

Não é difícil se sentir poeta aos 17, 18 anos. Quase tudo que se escreve é um desabrochar.
Mas a gente cresce (em tese) e tem que aprender a fazer do cotidiano um eterno poema em construção. Eis a grande escritura! Eis a grande arte!



sábado, 29 de outubro de 2016

Dez culpas ou cem culpas sem desculpas



Tu amas tua amada nas camadas da cama e ainda reclamas? 
tanta culpa vivida em camadas...
tanta desculpa vivida em camas...
dez culpas...cem culpas...sem desculpas...


quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Av. Paulista

Estava sentado em um banco de uma loja esperando minha algoz e cúmplice escolher um par de sapatos - em outras palavras, estava em uma longa espera. De repente, um casal, ele negro, ela loura, ambos aparentando mais de 60 anos, se aproxima. Ele, com uma afetação intensa na fala e na gesticulação diz que fico muito bonito usando meus óculos escuros, e pergunta se sou americano. Sem interesse na conversa envio um sorriso de canto de boca e balanço a cabeça negativamente. O casal parece perceber e segue seu caminho. Ele dá dois passos, volta e diz com muita afetação que pareço com Thomas. Pergunta se conheço Thomas pois pareço muito com ele. Mais uma vez sacudo a cabeça negativamente. Fico imaginando quem será Thomas; um cantor? um ator? Ele então se aproxima mais e diz: Thomas da igreja! Ela se aproxima também, me olha com muita atenção e diz: você é muito bonito, deve ser americano. Lancei um olhar fulminante através dos óculos e finalmente perceberam que eu não era americano, nem era parecido com Thomas e talvez nem fosse tão bonito. Foram embora! Me volto para o interior da loja e percebo claramente através dos óculos escuros que minha algoz e cúmplice ainda não escolheu o par de sapatos...


terça-feira, 18 de outubro de 2016

Nota 845/16 do diário do Dr. Punk Freud

Se você soubesse a mentira que vem sendo contada há tanto tempo você não iria acreditar que é mentira, pois é a única verdade que te resta.


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Dia das crianças

O maior erro é acreditar que uma criança para crescer e tornar-se adulta tem que deixar de ser criança. Que não pode cometer mais erros, deixando os sonhos sem sentido comum pra trás e vivendo num mundo de deveres e sonhos feitos por decreto. Nada disso tem a ver com crescer e sim com se adaptar do modo mais fácil. Amadurecer mesmo é aprender outras brincadeiras, outras formas lúdicas de estar no mundo. Quem consegue descobre outras possibilidades de brincadeira nos vínculos e no trabalho. Mas esse crescimento não é pra todos pois a maioria dos vínculos e trabalhos são construídos nas negações do desejo, então, o que precisa amadurecer é essa forma de encarar as crianças como mero anteprojeto de adulto. Adulto que é adulto descobre que com o passar dos anos aprendeu a cometer outros erros, mas que mesmo esses ainda podem trazer alguma diversão. Adulto bem crescido deve saber que tem outros sonhos e neles é possível ser criança. Deve aprender que poucos acertos, podem repercutir como grandes.  

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Nota 723/16 do diário do Dr. Punk Freud

Uma senhora, notória beata da comunidade soteropolitana, viúva respeitável da classe média alta local, tem vivido suas últimas horas muito preocupada com sua nora. Essa preocupação se manifestou intensamente em sonho que teve na noite passada. Sonhou que sua nora estava no aeroporto prestes a embarcar sozinha em viagem de férias para um destino exótico. Contudo, quando passava a bagagem pelo raio X ela acabou sendo retida para averiguações. Depois de encaminhada para a PF ela foi detida sob a alegação de que sua mala estava cheia de vibradores e dildos com múltiplas cores, formas e tamanhos. A família foi avisada e juntamente com o filho a sogra foi visitar a nora. Quando se encontraram, as duas se abraçaram longamente.

 O sonho da beata e viúva respeitável acabou assim, deixando-lhe uma sensação de perigo iminente! A sogra consumida pela preocupação com o nome de sua família e com a honra de seu filho único, com mãos trêmulas telefonou para a nora avisando-a que ela estava correndo o sério risco de ser presa por tráfico de pênis. Ainda com os olhos fechados, a nora escutou o relato e lentamente respondeu sem pensar:
- Mas eles não podem me prender! Eu não sou traficante. Eu sou usuária!!!


Nota 723/16 do diário do Dr. Punk Freud

Uma senhora, notória beata da comunidade soteropolitana, viúva respeitável da classe média alta local, tem vivido suas últimas horas muito preocupada com sua nora. Essa preocupação se manifestou intensamente em sonho que teve na noite passada. Sonhou que sua nora estava no aeroporto prestes a embarcar sozinha em viagem de férias para um destino exótico. Contudo, quando passava a bagagem pelo raio X ela acabou sendo retida para averiguações. Depois de encaminhada para a PF ela foi detida sob a alegação de que sua mala estava cheia de vibradores e dildos de todas a cores, formas e tamanhos. A família foi avisada e juntamente com o filho a sogra foi visitar a nora. Quando se encontraram, as duas se abraçaram longamente.

 O sonho da beata e viúva respeitável acabou assim, deixando-lhe uma sensação de perigo iminente! A sogra consumida pela preocupação com o nome de sua família e com a honra de seu filho único, com mãos trêmulas telefonou para a nora avisando-a que ela estava correndo o sério risco de ser presa por tráfico de pênis. Ainda com os olhos fechados, a nora escutou o relato e lentamente respondeu sem pensar:
- Mas eles não podem me prender! Eu não sou traficante. Eu sou usuária!!!


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Ensaio sobre a surdez

Quando o silêncio fala mais alto
me sinto em meio ao maior dos poemas
contudo, quem não sabe o que falar teme os sons do silêncio,
quem acha que sabe o que dizer não entende a filosofia do silêncio,
os que não suportam escutar se escondem nos barulhos estridentes em forma de silêncio, 
mas o silêncio só se pronuncia verdadeiramente aos que têm ouvidos  para o que não pode ser dito

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O impeachment da fé

Deus está morto. Morreu de overdose da fé falsa dos fariseus que erguem templos de areia banhados em ouro. Morreu bombardeado pela fé cega dos iconoclastas que só veneram o que enxergam no espelho. Morreu intoxicado por alimentos fast food feitos com os pães com grãos transgênicos, pelos peixes contaminados pela lama da Samarco e pelo vinho feito com o sangue dos que atiraram a primeira pedra e esconderam a mão.  Deus morreu de vergonha quando seus símbolos foram evocados em vão por quem lavou as mãos e deixou a torneira aberta até a fonte secar. Deus está morto e sua maior prova de sabedoria é não querer ressuscitar para viver tudo de novo nos sonhos de seus criadores que se dizem seus filhos multiplicados entre centésimos de dízimos...

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Notas do diário do Dr. Punk Freud

1 - A vida é um caminho com passagens que ficam nos visitando.  

2- Somos mais parecidos do que  sabemos. O plano B de todo ser vivo é  a morte!

3 - Fazer os testes do facebook revela o potencial viciado em Pokémon. 

4 - A suposta excitação da sexta-feira é o começo da depressão da segunda-feira! 


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Em busca da excitação

O sociólogo Norbert Elias escreveu um excelente livro intitulado Em busca da excitação no qual analisa com grande embasamento histórico (embasamento construído em outro de seus livros chamado O processo civilizador) os motivos que levaram as sociedades ocidentais a se tornarem menos bélicas resolvendo muitos dos seus conflitos por intermédio da parlamentação, do diálogo político. Esse foi o grande fruto do processo civilizador, não precisar escravizar ou matar quem tem interesses contrários na hora da resolução de conflitos. Como psicologicamente os seres humanos ainda precisavam escoar sua faceta mais agressiva, foi desenhado um espaço social para realizar essa catarse impossível de resolver na relação parlamentar clássica. Dai a necessidade das arenas de esportes,  numa versão um tanto diferente das arenas romanas. Os atletas em disputas passam a representar as energias incontroláveis dos torcedores, da sociedade. Em poucas palavras, eis os motivos que nos levam a carecer da política parlamentar (e/ou presidencial) e dos esportes de massa num contexto mais amplo.

Mas será que isso responde a tudo que assistimos nessa edição dos jogos olímpicos? Algumas dúvidas rondam a marca do pênalti. Por que será que as egípcias do vôlei de praia cobrem os corpos e  as do nado sincronizado não? Por que no nado sincronizado só competem mulheres? Por que quase não houve casos de doping nessa olimpíada? Será só a ausência dos russos e russas ou o doping invisível voltou a ser mais eficiente que o teste antidoping? Por que as forças armadas brasileiras que só bancavam atletas com alto índice de rendimento, agora, se propõem a fazer mais do que isso ganhando destaque na cerimônia de encerramento? Indo além da competição em si, talvez não seja producente  questionar o que levou dois boxeadores de países com valores morais rígidos a se sentirem à vontade para tentar  estuprar duas funcionárias da vila olímpica. Do mesmo modo, deve ser contraproducente questionar por que um nadador estadunidense que há muito vem vivendo na sombra de Phelps quase gera um incidente diplomático ao forjar um assalto para sair de vítima. Isso o Dr. Punk Fred explica!

Mas a busca da excitação não é privilégio dos atletas. Sendo assim, por que o público brasileiro se sente no direito de vaiar os adversários sem se importar se as vaias interferem em performances de quem em longos períodos  de treinamento e competição não está habituado a hostilidades?  Será em função da característica antropofágica da cultura tupiniquim? Se o importante é competir, por que tem que ter um lado pra apoiar e não apenas apreciar? Na luta entre Usbequistão e Casaquistão e depois entre um atleta desse último  país e um lutador de origem britânica, a torcida nativa se manifestou ruidosamente a favor do juiz brasileiro. Se o importante é competir por que será que aos 30 minutos do segundo tempo do jogo de futebol masculino entre Brasil x Honduras a torcida local gritava: "A Alemanha pode esperar, a sua hora vai chegar"?

Mas será que a excitação  se limita a atletas e torcedores?  Será que é fácil entender  o motivo que levou as agências de notícias a terem licença poética para interpretar a declaração  do técnico francês do salto com vara, "este é um país estranho " como equivalente a "candomblé" na justificativa do que fez o brasileiro Thiago Braz superar o competidor francês? E o que levou outro jornalista a tentar tirar atletas do armário na marra sabendo que sua postura antiética corria sérios riscos de ser descoberta além de comprometer, com risco de morte, tais atletas? Vale lembrar também que não foi noticiado que alguém tenha sido vitimado pela zica com exceção da goleira de futebol estadunidense, que foi picada em todos os poros pela torcida nativa quando tocava na bola, após ter aparecido na Internet, vestindo uma armadura para vir ao Brasil. E os atletas que nadaram na lagoa, será que alguém saiu contaminado pela água? Algum europeu, algum americano? Isso apareceu em algum jornal? E indo além dos jornalistas, por que o COI antecipadamente não pensou em doar ingressos para quem não pôde comprá-los só cogitando em doá-los posteriormente, para preencher o vazio dos estádios?  E por que as vendas para os jogos paralímpicos estão sendo tão baixas se tem ingresso a partir de R$10,00?

Com certeza Norbert Elias e o Dr. Punk Freud não possuem respostas para 99%  dessas perguntas. Mas isso significava que elas não devem ser feitas, principalmente percebendo que elas também podem gerar excitação?

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Entre retas e pontos


Nesse momento, as pessoas mais celebradas do mundo são aquelas que durante alguns segundos conseguem percorrer uma linha reta, estreita e solitária com mais  rapidez. Contato físico com outros durante o percurso gera punição. Um seleto grupo de pessoas treina anos a fio pra percorrer uma linha reta e por isso essas pessoas são  consideradas  semideuses. Acima de todos há dois indivíduos, um voando na terra e outro na água. 
  Enquanto isso o mundo dá voltas e voltas e bilhões de humanos sofrem com a retidão dos caminhos das relações cotidianas. Tentam voar mas quase não saem do lugar. Seus corpos e mentes não foram preparados para tanto. Isso não merece celebração. Vivem correndo em uma reta que nem sempre liga e leva aos pontos sonhados.  Seus sonhos servem para outros, que são poucos, muito poucos. Assim se conserva o Olimpo limpo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Segunda-feira

Que o silêncio faça barulho lá fora
na sala de espera das relações
Aqui dentro reinam meus ruídos 
soberanos como uma sinfonia







segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Observações

Duas ou três observações sobre essa semana e suas manchetes. No áudio gravado por Patrícia Lélis em uma conversa tensa com um assessor de Marco Feliciano não deve passar despercebido que entre as várias pessoas que tentaram por panos quentes no caso de estupro, foi citado o nome da psicóloga Marisa Lobo, aquele da cura gay que já foi cassada, descassada e recassada pelo CFP e hoje nem sei como anda sua legitimidade para clinicar. Outra observação que merece destaque é que o assessor (que se apresenta como conselheiro de Feliciano) aponta que Patrícia (ou qualquer pessoa) não deve se preocupar com os pastores que estão ganhando muito dinheiro, mas com quem usa barba, turbante e burca. Quer dizer, a má fé e a corrupção devem ser esquecidas, pois o problema maior está naqueles que podem ser estereotipados como terroristas. Desse modo é legítimo que ela aceite dinheiro para abafar o caso.
Uma outra observação deve ser feita em relação à cerimônia de abertura dos jogos olímpicos. Algumas pessoas estão postando e comentando que a plasticidade do espetáculo foi pura maquiagem, uma farsa para esconder os problemas do país. Coisa mais ingênua ou mal intencionada! Os problemas nacionais estão nas mídias em tempo integral, impossível maqueá-los! Todas as aberturas de jogos primam por ressaltar os aspectos identitários mais belos de cada país. Foi assim em Pequim, em Londres, em Barcelona e em qualquer outro lugar. O espetáculo de ontem foi primoroso principalmente por exibir a diversidade do nosso cotidiano e suas tensões. Lá estava o símbolo olímpico formado por folhas (que pareciam) de maconha, uma modelo trans puxando a delegação brasileira, uma criança negra sambando elegantemente ao lado do grande Wilson das Neves, Paulinho da Viola mandando o hino nacional com seu estilo peculiar, o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima (que venceu mas não levou em Atenas em função do assédio de um fã) acendendo a pira olímpica e todo o restante envolvido por uma plasticidade cênica espetacular. E vale ressaltar a participação da plateia que mandou uma vaia calorosa mas totalmente respeitosa para o presidente interino, bem diferente do "vá tomar no cu" dirigido à presidente afastada na abertura da Copa do mundo.

E como o mundo não acabou essa semana, de acordo com o previsto, o país vai continuar passível de observações e intervenções. Bola pra frente, que mesmo sem título, atrás vem gente!

Y Go!

O problema não é o jogo. O modo como o jogo foi instaurado é que precisa ser problematizado. O processo de colonização do inconsciente se deu em torno de um marketing poderosíssimo que ganhou o planeta em duas ou três semanas. Para os jovens, especificamente os que se enquadram no estereótipo da geração Y (20/29 anos, alimentados em tempo integral pela cultura da Internet, com muitas informações e vínculos superficiais, geralmente dependo dos pais por mais tempo que a geração anterior), não houve muita escolha. Dois exemplos. Na semana passada um vídeo viralizou nas redes sociais com um rapaz em prantos em função do Pokémon Go ainda não ter sido lançado no Brasil e por isso ele se sentia tolhido no seu direito de consumidor. Ontem, um jovem conhecido postou no Facebook que estava se sentindo excluído no ambiente de trabalho pois seu celular era o único incompatível com o jogo. Ambos os relatos têm a ver com processos de exclusão/inclusão.

Não por acaso esse jogo ganhou o mercado com um elemento em comum com a série da Netflix que também virou sucesso em pouquíssimo tempo, Stranger Things. Nas suas tramas - além das poderosas estratégias de marketing via redes sociais - ambos giram em torno de algo que deve ser encontrado. No caso do jogo, personagens icônicos devem ser caçados na "realidade aumentada". Já no caso da série, um garoto desaparecido é que precisa ser encontrado em meio a fenômenos de outras dimensões. A série resgata o clima dos Blockbusters dos anos 80, nos quais a realidade aumentada do universo adolescente foi consagrada, via filmes de Spielberg e de seus discípulos como Richard Donner, John Landis, Robert Zemeckis e outros. Em filmes como ET, Goonies, De volta para o futuro e Conta Comigo, crescer e sair da adolescência onde tudo era possível, parecia algo entre um crime e um pecado.


Atualmente, a geração Y vem sendo apontada como a que menos tem interesse em sexo desde a grande depressão na década de 1920, pelo menos em solo estadunidense. Isso não é necessariamente um problema, a questão é que essa energia libidinal é deslocada para um campo de consumo que vêm sendo bem explorado pelas grandes corporações. Num mundo cada vez mais recheado por terrorismo ideológico e menos empregos e relacionamentos afetivos estáveis, aos jovens é oferecida a oportunidade de permanecer em um universo adolescente tipicamente anos 80, período que eles nunca viveram e isso soa como liberdade de opção, como realidade aumentada. Eis uma problematização que precisa ser feita. Se seu resultado será caçado como um Pokémon ainda não se sabe...

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Sorria!

Querendo mudanças, há momentos nos quais nós andamos bastante sob o sol e ao chegarmos  na fronteira de uma praia de nudismo que queremos conhecer fotografamos a fronteira, damos meia volta e corremos  para o shopping mais próximo para comprar as roupas da moda.
Querendo mudanças, há momentos nos quais nós  guardamos  a fome até não aguentarmos  e ao chegarmos na porta de um restaurante vegano que queremos conhecer fotografamos o restaurante, damos meia volta e vamos comer um churrasco de gato na esquina mais próxima.
Mas isso não é problema, não é contradição, não é crise de identidade se parecermos felizes no momento da selfie. Sorria!


Contemporaneidade Zen

Nada é o que parece ser, mas é
pois isso não é uma mensagem, mas acaba sendo 
já que o poço da vida não tem fundo, mas é fundo



sexta-feira, 22 de julho de 2016

D.R.

Ainda não morri porque a vida sempre estará em dívida para comigo e eu insistirei na cobrança até o fim dos dias...



segunda-feira, 13 de junho de 2016

Alta cultura

Assim como política, futebol e religião, o estupro também é cultura,
uma cultura que  passa pelas meninas que hoje são mães e não se lembram que foram fãs da Xuxa,
 um tipo de cultura que passa trincando a TV quando os noticiários exibem que o SUS pede socorro aos planos privados de saúde,
um modelo cultural que faz um trajeto incólume  pela realização das olimpíadas nas quadras e raias que são berçários da microcefalia,
uma referência de cultura que chega e fica tranquila e favorável quando se diz que é normal frequentar escola sem ter merenda no recreio, 
uma cultura repaginada que chega e fica de boa no bolso do cidadão que paga os maiores impostos e recebe os menores salários,
uma cultura sedutora que deita e rola quando o bandido bom é escolhido para ser o algoz do bandido mau,
é uma cultura que se renova e se consagra quando o jornal  mais vendido apaga  hoje a notícia que escreveu ontem,
é um status cultural que se projeta e agrega valores ao apontar que somos filhos da virgem que não escolheu seu par,
uma cultura de mercado que se multiplica e condensa discípulos quando no lugar do Estado laico existe uma Igreja próspera, 
um processo cultural que gera pertencimento quando estudantes universitários discutem em redes sociais que a garota currada e o gay morto fizeram por merecer... 
Ah sim, cultura é o que não nos falta, senhoras e senhores. E o estupro mais silencioso acontece quando nos falta sabedoria para lidar com tanta cultura sem mostrar nossa infinita ignorância!

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Poesia

No Brasil
A cada 11 minutos uma mulher é estuprada 
A cada 23 minutos um jovem negro é assassinado
No mundo
A cada hora um chinês vira milionário 
Morrem 300 crianças a cada hora
Na vida
A cada dia o futuro vai ficando mais distante 
A cada noite o passado vai ficando mais próximo 
Nesse planeta
16 milhões de meninas e 8 milhões de meninos entre 6 e 11 anos nunca irão a escola


sexta-feira, 13 de maio de 2016

A vida é uma reta sinuosa. A política são infinitas curvas que podem acabar numa reta.



E agora, que mulheres, negros, jovens, gays e trans terão menos representatividade oficial com a saída de campo do Ministério das Mulheres, Igualdade Racial, Juventude e Direitos Humanos, o que dirão os senhores brancos, ricos, supostamente heterossexuais e com terceiro grau completo quando perceberem que sem a legitimidade reconhecida das empoderadas minorias a sociedade será uma piada tecnoburocrática da qual só as grandes corporações multinacionais acharão graça? Eles devem achar muito engraçado  acompanharem tantos jovens negros, gays e trans serem mortos em número alarmante e naturalizado, e que a PEC das domésticas não seja conhecido pelas empregadas domésticas. E já nem acham graça no salário das mulheres porque isso não é exclusividade da cultura brasileira.

E agora, que os ministérios da Educação e da Cultura serão fu(n)didos,  o que dizem os artistas rancorosos que se queixavam que a Lei Rouanet só beneficiava os partidários do PT? E agora, que as igrejas se preparam para intervir até no STF, que a educação pública tenderá a ser um mero repasse de informações sem análise  crítica (além de correr o risco de ser privatizada), que as relações de trabalho serão precarizadas pela terceirização, que também o SUS pode ter alguns setores privatizados, que os transgênicos estão sendo liberados sem rótulos que os identifique, será que a galera que vai pras ruas se manifestar contra a corrupção vestindo camisa da CBF e sonha em morar em Miami está satisfeita? 

E agora que a corrupção acabou será que os bancos continuarão lucrando?
E agora? E aí, cidadão do bem? Ah, claro, você vai continuar calado pois seu silêncio é sinal de sabedoria...

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Que horas são?

Ontem, nesse mesmo horário, descobri que o ponteiro de minutos me perseguia. Onde eu ia, ele corria atrás fazendo o tempo me acompanhar. Hoje, 24h depois, descobri que o ponteiro de horas também me persegue.


sexta-feira, 25 de março de 2016

Futebol

Não torcer pelo time A ou B não quer dizer que eu não  goste de futebol, pelo contrário, gosto e me sinto crítica e ativamente participativo no esporte das multidões na medida em que minha estratégia  não se limita a acreditar que estou aqui para ver meu time vencer ou vencer o jogo, estou aqui por acreditar que o campeonato tem mais sentido que os jogos com placares mais que suspeitos.  Minha participação na arquibancada (muitas vezes virtual) afeta constantemente os dois times e suas torcidas pois meus comentários, gritos, vaias e aplausos são constantes e repercutem entre os apaixonados  por bandeiras infladas com sangue, poder e dinheiro, eles gostem ou não.

domingo, 13 de março de 2016

13 de março, dia da independência!?!?

Viver em um país no qual o poder executivo é incompetente, o legislativo é inoperante e o judiciário politizado segue direcionando os destinos da nação, me faz lembrar da época em que lia Kafka, Dostoievski, Huxley e Orwell. Os dois primeiros mostram que acima do óbvio cotidiano existem camadas de valores insuspeitos que só percebemos quando cruzamos o limite entre nós e as instituições (muitas vezes invisíveis) que nos cercam. O penúltimo apontou que a melhor forma para controlar as pessoas é dando-lhes a ilusão de viver em liberdade. Do último, trago a lembrança de que o método mais eficiente para manipular o presente é reescrevendo o passado. E a Velha República, a ditadura militar e a Nova República foram tão bem reescritas por atores sociais que construíram seus castelos para além do bem e do mal - com isso sentindo-se livres e acima das instituições - que hoje alguns juízes, com togas que parecem capas de super-heróis (e mesmo os que não as usam se comportam como se a usassem), já não se importam se o país é presidencialista ou parlamentarista, eles são os donos da bola com a devida conivência de boa parte das torcidas e dos donos dos castelos. E como a maioria não lê nada que está para além das redes sociais, nem recomendo os autores citados, pois em breve estreia nos cinemas: Capitão América, guerra civil - ou algo assim. Eis uma boa oportunidade para começar a reescrever o presente sem queimar os dois neurônios restantes...


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Na encruzilhada

Siga-se
se puder
senão 
perca-se 
sem receio
de não estar a caminho 
do futuro do presente


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Ordem e progresso

Eis a ordem em progresso:
10 ordem...
100 ordem...




De A à zero!

Uma palavra mordeu minha língua, escorregou da minha boca, caiu rodopiando e fraturou meu pé paralisando meus movimentos, exaurindo minha postura de Curupira, mutilando meu calcanhar de Aquiles.
Uma ideia escapuliu da minha cabeça,  gerou discussões sem fim, dispôs Caim contra Abeu e reinventou a roda ao reacender o fogo primordial das relações entre diferentes.
Um sentimento  vazou do meu coração, resvalou em corpos lubrificados pelo suor, ricocheteou em afetos ocultos no calor das emoções e deu muito trabalho aos psicólogos. 
Um gesto foi ejaculado da existência, rompeu limites ideológicos antes impenetráveis, ressignificou preconceitos complacentes enraizados no concreto das cidades e morreu nas palavras derramadas nesse texto.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

sábado, 9 de janeiro de 2016

Os oito odiados  e a matemática inclusiva

Fazer uma leitura dessa obra é abrir mão do 2 + 2 = 4. Sim, porque primeiramente é necessário jogar fora as tabuadas que se pretendem facilitadoras da vida do espectador. Li duas resenhas antes de assistir a película que falam de um roteiro cheio de questões políticas, principalmente relacionadas ao racismo, apontando que a obra é um acerto de contas com a América excludente. Uma delas chega a frisar a relevância do filme no momento em que as discussões raciais voltaram à tona nos EUA, pois as filmagens transcorreram durante as tensões em Ferguson e Baltimore nas quais negros foram vítimas de violência policial. Depois de sair da sala de cinema só dá pra entender essas resenhas de dois jeitos.  Como pura  balela escrita por quem queria mostrar alguma erudição ou que o filme dialoga com seu ponto de vista, mas esse tiro sai pela culatra, pois as próprias declarações de Tarantino deixam claro que ele não  tem nenhuma pretensão de soar politicamente correto.  

A segunda leitura talvez seja mais condescendente com tais resenhas -  e nesse sentido esse texto corrente também pode ser enquadrado em tal modalidade -  pois escrever sobre uma obra é criar uma obra diferente da original, é gerar um hipertexto. 
Feitas tais ressalvas, vale afirmar que para além dos cinco capítulos, o filme pode ser dividido em dois momentos: o primeiro se desenvolve enquanto os personagens vão sendo lentamente apresentados ao espectador e isso dura cerca de uma hora. Para alguns espectadores que já anseiam por sangue desde sempre essa primeira hora pode ser uma frustração, mas Tarantino não tem nenhum compromisso com a zona de conforto da plateia. Pelo contrário, desde o filme anterior, Django livre, no qual revisita ou gênero clássico do cinema norteamericano, o Western, ele subverte a fórmula original com diálogos desconcertantes, porém mais (aparentemente) verossímeis do que ele criou para por exemplo, Pulp Fiction.

 O segundo momento se dá quando os personagens centrais estão reunidos no mesmo espaço físico (um suposto armarinho) e fica mais ou menos clara qual é a trama que conduz a obra. Esse segundo tempo dura quase duas horas, mas em nenhum momento se torna um tempo cansativo pois a dinâmica imposta acrescenta um suspense psicológico que lembra uma trama de Agatha Christie com toques hitchcockianos.  A partir de então o filme cresce numa espiral envolvente, com reviravoltas nunca óbvias até o gran finale. A violência que brota é quase naturalizada em torno dos conflitos psicossociais a ponto de não chocar, por mais intensa que seja. O elenco cheio de gente tarimbada tem momentos sublimes que fazem o espectador se sentir como num teatro observando nuances faciais e gestuais - para isso a direção de fotografia e a trilha sonora de Morricone contribuem absurdamente. 

É ai que as questões políticas, raciais e de gênero ganham contornos mais profundos, mas nunca de forma panfletária. Vai caber ao espectador abraçar suas convicções éticas em diálogo com o filme, mesmo que muitos não compreendam  os aspectos da guerra civil estadunidense - vale lembrar as declarações do  diretor nas quais ele compara os confederados ( os "8" estados sulistas que lutavam contra a abolição da escravatura) aos nazistas. E talvez por tais declarações alguns o vejam como "politicamente correto", mas só que não é tão simples. Aliás, a matemática de Os 8 odiados não é nada simples, mas sobre isso é melhor que cada um assista a obra e use os dedos pra contar o que tiver de ser contado. No momento histórico em que a cultura de ódio é lugar comum nas redes sociais esse filme pode ser um grande exercício para entender como transitar entre interesses próprios e a (in)tolerância, mas não deve ser  usado como manual ou tabuada.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Uma obra de fôlego - produzida nos pulmões!

Há alguns anos, uma das minhas falas típicas quando o tempo se impacientava era: "Vou levantar âncora!" Para outros mares, para outros bares, para outros desejos.
No livro que o próprio tempo escreveu é possível ler que âncoras podem significar segurança. Assim como podem significar acomodação e aprisionamento. 
E o tempo se impacientar não era e não é difícil. Às vezes, basta respirar para que isso aconteça. Ou, dizendo de outra forma, se costuma prender a respiração para que o tempo pare, para que seja nosso refém. Mas isso nunca dura o tempo suficiente, logo o ar nos foge sem controle, pois o que é gasoso não quer apodrecer como prisioneiro de nossos frágeis corpos humanos. Então, ficar no mesmo lugar ou levantar âncora e se movimentar é basicamente uma obra de fôlego! Um processo produzido nos pulmões! Se for assim, não é coincidência serem os pulmões que se enchem de água quando se levanta âncora para mares incontornavelmente revoltos que por eles é impossível navegar sem naufragar - se não for com a imaginação.  
Quem não quiser abraçar esse último ponto de vista deve torcer para que as âncoras de sua existência criem raízes mais profundas que o possível de conceber. Para os adeptos dessa postura, os ventos são uma terrível ameaça já que podem provocar a quebra da inércia. Só que o nascer e o estar vivo dos humanos não se reflete em inércia. O que se reflete em inércia inquebrável  é a morte!  Desse modo, o perambular entre o ar respirável que suscita o movimento de contração e de expansão e a água corrente que pode conduzir os desancorados tanto a continentes perdidos quanto a ilhas solitárias seria o sentido do existir?
Talvez seja preciso arriscar levantar âncoras do porto inseguro desse texto para saber. Talvez navegar seja realmente preciso. Talvez viver continue sendo impreciso. Talvez o fôlego que basta e o fôlego que falta possam parir as respostas...talvez.