sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Notas do diário do Dr. Punk Freud

1 - A vida é um caminho com passagens que ficam nos visitando.  

2- Somos mais parecidos do que  sabemos. O plano B de todo ser vivo é  a morte!

3 - Fazer os testes do facebook revela o potencial viciado em Pokémon. 

4 - A suposta excitação da sexta-feira é o começo da depressão da segunda-feira! 


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Em busca da excitação

O sociólogo Norbert Elias escreveu um excelente livro intitulado Em busca da excitação no qual analisa com grande embasamento histórico (embasamento construído em outro de seus livros chamado O processo civilizador) os motivos que levaram as sociedades ocidentais a se tornarem menos bélicas resolvendo muitos dos seus conflitos por intermédio da parlamentação, do diálogo político. Esse foi o grande fruto do processo civilizador, não precisar escravizar ou matar quem tem interesses contrários na hora da resolução de conflitos. Como psicologicamente os seres humanos ainda precisavam escoar sua faceta mais agressiva, foi desenhado um espaço social para realizar essa catarse impossível de resolver na relação parlamentar clássica. Dai a necessidade das arenas de esportes,  numa versão um tanto diferente das arenas romanas. Os atletas em disputas passam a representar as energias incontroláveis dos torcedores, da sociedade. Em poucas palavras, eis os motivos que nos levam a carecer da política parlamentar (e/ou presidencial) e dos esportes de massa num contexto mais amplo.

Mas será que isso responde a tudo que assistimos nessa edição dos jogos olímpicos? Algumas dúvidas rondam a marca do pênalti. Por que será que as egípcias do vôlei de praia cobrem os corpos e  as do nado sincronizado não? Por que no nado sincronizado só competem mulheres? Por que quase não houve casos de doping nessa olimpíada? Será só a ausência dos russos e russas ou o doping invisível voltou a ser mais eficiente que o teste antidoping? Por que as forças armadas brasileiras que só bancavam atletas com alto índice de rendimento, agora, se propõem a fazer mais do que isso ganhando destaque na cerimônia de encerramento? Indo além da competição em si, talvez não seja producente  questionar o que levou dois boxeadores de países com valores morais rígidos a se sentirem à vontade para tentar  estuprar duas funcionárias da vila olímpica. Do mesmo modo, deve ser contraproducente questionar por que um nadador estadunidense que há muito vem vivendo na sombra de Phelps quase gera um incidente diplomático ao forjar um assalto para sair de vítima. Isso o Dr. Punk Fred explica!

Mas a busca da excitação não é privilégio dos atletas. Sendo assim, por que o público brasileiro se sente no direito de vaiar os adversários sem se importar se as vaias interferem em performances de quem em longos períodos  de treinamento e competição não está habituado a hostilidades?  Será em função da característica antropofágica da cultura tupiniquim? Se o importante é competir, por que tem que ter um lado pra apoiar e não apenas apreciar? Na luta entre Usbequistão e Casaquistão e depois entre um atleta desse último  país e um lutador de origem britânica, a torcida nativa se manifestou ruidosamente a favor do juiz brasileiro. Se o importante é competir por que será que aos 30 minutos do segundo tempo do jogo de futebol masculino entre Brasil x Honduras a torcida local gritava: "A Alemanha pode esperar, a sua hora vai chegar"?

Mas será que a excitação  se limita a atletas e torcedores?  Será que é fácil entender  o motivo que levou as agências de notícias a terem licença poética para interpretar a declaração  do técnico francês do salto com vara, "este é um país estranho " como equivalente a "candomblé" na justificativa do que fez o brasileiro Thiago Braz superar o competidor francês? E o que levou outro jornalista a tentar tirar atletas do armário na marra sabendo que sua postura antiética corria sérios riscos de ser descoberta além de comprometer, com risco de morte, tais atletas? Vale lembrar também que não foi noticiado que alguém tenha sido vitimado pela zica com exceção da goleira de futebol estadunidense, que foi picada em todos os poros pela torcida nativa quando tocava na bola, após ter aparecido na Internet, vestindo uma armadura para vir ao Brasil. E os atletas que nadaram na lagoa, será que alguém saiu contaminado pela água? Algum europeu, algum americano? Isso apareceu em algum jornal? E indo além dos jornalistas, por que o COI antecipadamente não pensou em doar ingressos para quem não pôde comprá-los só cogitando em doá-los posteriormente, para preencher o vazio dos estádios?  E por que as vendas para os jogos paralímpicos estão sendo tão baixas se tem ingresso a partir de R$10,00?

Com certeza Norbert Elias e o Dr. Punk Freud não possuem respostas para 99%  dessas perguntas. Mas isso significava que elas não devem ser feitas, principalmente percebendo que elas também podem gerar excitação?