quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Prato feito

"É tanta coisa no menu que eu não sei o que comer". Essa fala de Raul em uma de suas músicas icônicas faz pensar que nem sempre a multiplicidade de ofertas amplia as opções do consumidor. Lembro que em algum momento do passado estava com uma namorada em um restaurante com uma larga oferta de sucos, muitos deles feitos com frutas exóticas. Eu pedi um de jabuticaba e minha acompanhante pediu um de laranja. Achei estranho que diante de tantas frutas incomuns ela tivesse pedido algo tão banal, e verbalizei tranquilamente minha reflexão. Ela replicou irritada que tinha o direito de escolher o que quisesse. Fiquei calado, mas silenciosamente pensei que aquela resposta era típica de quem não tinha disponibilidade para refletir sobre o como evitamos sair do que aparentemente é seguro e encontrar algo que pode gerar estranhamento.
Às vezes, muitas vezes, quanto maior for a oferta, menor é a variação das escolhas. No amor, na política, no lazer e no que mais houver. Talvez isso explique por que as relações sociais estejam tão polarizadas ultimamente. Para eu estar certo, você deve estar errado, sem posições intermediárias ou alternâncias de posicionamentos.  Desse jeito, o menu vai se transformando em manual, livro sagrado, constituição que não deve ser posta em xeque. Assim a vida vai se tornando um restaurante que serve um prato único, apesar do cardápio variado, e a única dúvida acaba sendo sobre o valor da gorjeta.