quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Condição Azul



Recentemente duas películas chegaram aos cinemas soteropolitanos emolduradas na indicação azul de seus títulos: "Azul é a cor mais quente" e  "Blue Jasmine". Nesse verão baiano que começou com um céu cinzento, tais películas trazem possibilidades de abordagem diferenciadas, porém relacionáveis, principalmente se for levado em conta a expectativa que as precederam entre cinéfilos e mesmo entre curiosos. A primeira, realização do tunisiano  Abdellatif Kechiche, vencedora da Palma de Ouro em Cannes, se tornou badalada pelo burburinho criado em torno das cenas de sexo. A segunda por ser o retorno de Woody Allen aos cenários americanos, mas não em Nova Iorque, em São Francisco. O que marca o azul no filme de Kechiche (originariamente intitulado “A vida de Adelle”) não é que haja blues na trilha sonora, o que há é que cenas de amor sexual acontecem em lençóis azuis, assim como nos  predominantes cabelos azuis de Emma, a amante de Adelle, a personagem principal, amante em torno da qual seu desejo orbita na quase totalidade do filme. Quase totalidade, pois, gradativamente o desejo do diretor vai se impor, concentrado principalmente na terça parte final do filme ( que dura 3 horas) quando ele nos faz entrar na sina do primeiro amante de Adelle, que para merecer seu amor se propõe a ler 600 páginas de um livro que ela aprecia, assim deixando claro que sua paixão não poupa sacrifícios. Nesse ponto o filme se torna azul-roxo, pois o diretor, metaforicamente, nos faz ler as tais 600 páginas (para provarmos que amamos o filme) durante quase uma hora de cenas que não acrescentam muito a boa narrativa das primeiras duas horas de película.

Já em Blue Jasmine, o timing de quem tem um ego ( no sentido artístico) equilibrado mostra como Woody Allen  se relaciona com a plateia no nível mais azul de um céu de verão - embora, a personagem central deixe claro que adotou o nome de Jasmine por essa ser uma flor que desabrocha após a meia-noite reinando nas horas mais escuras. Suas desventuras são tamanhas que ela tenta até apagar o passado para ser feliz, mas, ao tentar sair das horas mais escuras, o passado bate a sua porta. Em síntese, se ambos os filmes tratam de histórias de mulheres buscando seu lugar a sol (talvez o sol da meia-noite) o primeiro filme traz a jornada de uma jovem mulher que está chegando e o segundo filme, explicita a história de alguém que precisa chegar de novo, reiniciando a trajetória de vida abalada por um amor trágico. As duas jornadas seguem trajetórias por rotas invertidas (mas não opostas): Adelle, na sua juventude busca o amor através da sexualidade ( se é que ela está ciente desse trajeto), Jasmine busca a segurança de um amor até certo ponto evitando as armadilhas que podem estar atreladas a uma paixão sexualizada. No geral são obras que valem a pena assistir, até em função de que ao sair do cinema o espectador pode perceber o verão local com cores menos cinzentas...


Imagem: Composição surrealista II 1934 - Miró


sábado, 23 de novembro de 2013

A economia e sua filosofia dançando na corda bamba




Dados da hora: No âmbito nacional, com toda sua festiva imagem cordial a Bahia caiu da sexta para a oitava posição na economia nacional. O PIB per Carpita é de R$ 11.340,18, o que a coloca na parte de baixo de uma relação de rivalidade que por vaidade ela procura evitar (com Sergipe cujo PIB é de R$ 12.536,45) e de uma rivalidade que por muita vaidade ela não consegue evitar (com Pernambuco que tem um PIB de R$ 11.776,10). Não vale dizer que foram os gastos com as festas populares que promoveram essa queda (pelo menos não o foram com as festas abertas ao populares). 



Já no âmbito planetário, quem possui valores iguais ou superiores a um milhão e seiscentos mil reais está mais empoderado do que 6 bilhões e 930 milhões de pessoas, do total de 7 bilhões que se arrastam pelos quatro cantos do globo. Em outras palavras, quem sustenta esse valor está dentro do clube do 1% dos mais ricos do planeta. Entretanto, vale ressaltar que dentro desse clube, apenas 50% (cerca de 32 milhões de humanos) são considerados "realmente" ricos, e, entre esses últimos se encontram os 161 poderosos chefões que controlam as 140 corporações transnacionais que fazem o mundo girar sem cinto de segurança e sem air bag nessa atual (e crescente) velocidade vertiginosa.


E mais, de acordo com dados divulgados pela BBC, o Brasil é o 4º país do planeta em recursos escamoteados em paraísos fiscais, colado em outros BRICS:



"O estudo lista os 20 países onde há maior remessa de recursos para contas em paraísos fiscais. No topo da lista está a China, com US$ 1,1 trilhão, seguida por Rússia, com US$ 798 bilhões, Coréia do Sul com US$ 798 bilhões, e Brasil, com US$ 520 bilhões". 


Afogados nesses números aqui estamos nós buscando mais do que uma política econômica, uma filosofia da economia que aponte aonde investir o que possuímos de confiança na sustentabilidade desse ou de algum sistema que possa ser especulado como viável. Enquanto isso, não é de admirar que fundamentalismo político e religioso, consumo de drogas lícitas e ilícitas, manifestações de sexualidade anticonvencionais, esportes extremos, violência generalizada, relações afetivas em grande parte virtuais e outras modalidades espetaculares de consumo cresçam e cresçam. 



Imagem: Francis Picabia - Villica Safe




quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A Missão!





Não é difícil perceber que ano após ano aumenta a quantidade de estudantes evangélicos em cursos universitários. Na instituição na qual leciono, em cursos como Psicologia e Fisioterapia, é impossível não perceber que muitas vezes alguns alunos acreditam que a saúde das pessoas que futuramente estiverem sob seus cuidados será guiada pela mão de Deus. Entre meus colegas docentes tal situação gera desconforto, pois parece apontar que tais estudantes se eximirão de assumir a responsabilidade relacionada aos seus procedimentos e que também negarão alguns pressupostos científicos em função de seus valores morais.
Como a parcela da população que abraça as diretrizes pentecostais é a que mais cresce e continuará crescendo no país, é ingênuo virar as costas para esse fenômeno e simplesmente encarar tal alunado com preconceitos, como por exemplo, serem tão fundamentalistas que não estão abertos ao diálogo. Esse é o momento para trazer a perspectiva ética para as temáticas trabalhadas em sala de aula e, dialogicamente, favorecer o alargamento da visão dos que chegam sobrecarregados com pontos de vista moral.  Nas minhas aulas, percebo no final do semestre que alguns alunos chegam a expressar verbalmente que estão “enxergando o mundo com outros olhares”, diferentes daqueles que suas famílias e suas Igrejas lhes ensinaram a usar. Claro que esse processo não é fácil, há vários atritos, principalmente por  debatermos questões de ordem política que não podem ser elaboradas pela moral do Bem e do Mal, do certo e do errado, mas sim respeitando as subjetividades dos sujeitos envolvidos. Assim, discutimos corrupção, uso e tráfico de drogas, sexualidade, violência e outras questões que perpassam o cotidiano sem buscar culpados ou inocentes, mas sim contextualizar as situações nas quais as injustiças sociais solapam a Democracia.
Se esse processo educacional não tiver lugar nas instituições universitárias, é melhor desistir de acreditar na possibilidade de um país melhor, pois mudanças não acontecem simplesmente elegendo candidatos, mudanças são construídas na prática cotidiana, principalmente em conjunto com as pessoas que estão buscando seu lugar ao sol e que acreditam que estão aqui com a missão de propagar o Bem, seja ele qual for. 

Imagem: Gorky - Batalha ao pôr-do-sol com o Deus de Maize 


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Vacina contra exclusão social

Nos dias atuais a inclusão social não se resume a ter dinheiro. A inclusão está amplamente garantida quando uma pessoa abraça três movimentos básicos: ser curtida, ser comentada e ser compartilhada.


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Fins e princípios



Nesse circo cotidiano, nem Beagles  nem Beatles. Quando cursava Psicologia  eu passei por aulas de fisiologia IV nas quais era lugar comum q os professores esmagassem conexões nervosas de rãs para vê-las, parcialmente paralisadas, se movimentarem apenas com um lado do corpo - às vezes alguns alunos eram levados a reproduzir tal procedimento - ou aplicassem injeções em olhos de coelhos para q esses, catatônicos, tivessem seus reflexos testados sem oferecer resistência. 

Passadas quase três décadas, lembro q certo dia, num momento de rebeldia, entrei no "depósito" de animais e abri as gaiolas de vários coelhos (pelo menos vinte) esperando q eles fugissem do cativeiro, mas nenhum deles se mexeu em função das drogas administradas e tb pela acomodação de nascença naquela zona de (des)conforto. Fiquei frustrado, corri o risco de ter sido expulso, mas não me arrependi. 

Hoje, ao ver pessoas fazerem algo semelhante, me sinto bem representado, guardadas as devidas proporções. Se experimentações precisam ser feitas q haja bons argumentos para legitimá-las, e q se evite o sofrimento pelo sofrimento. É preciso sustentar princípios éticos para correr atrás de fins supostamente objetivos. O circo cotidiano não pode parar, mas não precisa ser reduzido ao show de horrores.


Imagem: Miquel Barceló - Somália 92

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Antropofagia

Certa vez numa barraca de praia vi um bando de surfistas cercando uma bela garota q estava sozinha numa mesa. Depois de muitas cantadas baratas ela disparou sem sequer olhar para algum deles: "vocês acham q vão me comer mas sou eu q tenho os grandes lábios". Imediatamente os garotos silenciaram e foram surfar no vazio.




segunda-feira, 23 de setembro de 2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Obsolescência programada



A obsolescência programada é uma das características mais duradouras da Cultura de Consumo, pra não dizer q é sua característica central. Os produtos já nascem com validade vencida, e, diferentemente dos organismos animais e vegetais, essa validade não é vencida pela fadiga processual do sistema orgânico, mas em função da sobrevida do sistema econômico e cultural q o gera. Assim, automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos duram menos do q potencialmente poderiam durar, para q sejam descartalizados e substituídos por outros modelos tecnologicamente mais sofisticados, o q assegura a sobrevida dos fabricantes. Às vezes são substituídos sem mesmo apresentarem problemas, basta q surjam novos modelos com variações mínimas. O processo está tão naturalizado q, por exemplo, o espanhol Benito Muros recebeu sérias ameaças por ter desenvolvido uma lâmpada de longa durabilidade, na prática cancelando  a máxima “Fiat Lux”.


Outro aspecto central da Cultura de Consumo e q geralmente não está tão relacionado à obsolescência programada é q as relações e os sentimentos também devem ter uma data de validade não muito longa, pois assim asseguram q os vínculos, num curto prazo, gerarão menos desconfortos por haver menos comprometimento. Quanto menor for o comprometimento vincular entre um sujeito e outro, mais fácil vai ser guiar as demandas dos sujeitos de um objeto de consumo a outro de modo substitutivo. Dessa forma, as relações entre sujeitos cada vez mais serão intermediadas por relações com objetos q precisam ser trocados num prazo cada vez mais curto incluindo os pontuadores do q é normal e do q é patológico nas interações sociais. A cada dois ou três anos a Indústria dos fármacos psiquiátricos surge com um novo transtorno mental e consequentemente com novos remédios para combatê-lo (hoje, quase todo mundo é bipolar, quase toda criança é hiperativa, etc), Na política, esse raciocínio se aplica ao q é normal e ao q é desviante. A cada mandato vencido vemos q os políticos eleitos fracassaram e precisam ser substituídos por outros q não são muito diferentes  dos q os antecederam, repetindo o processo nas próximas eleições, e assim segue, ad infinitum.


Só uma coisa não muda: A  mudança tem q ser eterna. Remetendo a Filosofia Clássica, percebe-se q Parmênides (grosso modo considerado o teórico da permanência) e Heráclito (considerando o teórico da mudança) não estão mais em oposição - particularmente acredito q nunca estiveram-, e sim fazendo parte de uma nova percepção: Enquanto não houver uma mudança realmente dialética nas relações de poder as mudanças q ocorrerem não mudarão quase nada a não ser de um objeto de consumo para outro, sendo q a satisfação gerada por ambos já nasce com validade vencida. Eis uma questão q não parece ter prazo de validade para ser resolvida.

Imagem: Umberto Boccioni



quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Olé!!!

Algumas pessoas tentam colocar o sofrimento de animais em touradas, rodeios, rituais de candomblé, umbanda e vodu no mesmo balaio. Há diferenças; enquanto nos dois primeiros o sofrimento de animais é perspectivado como atividade explicitamente recreativa, nos três últimos o sacrifício animal se dá em configurações místico-religiosas - e não é por não ser adepto de nenhuma religião q não vou considerar esse aspecto. Com esse parentese feito, pensemos o primeiro caso q acaba sendo business, prioritariamente. 
Jung apontou q a demanda por touradas na Espanha e no México tem a ver com a necessidade dos povos latinos (arquetipicamente mais passionais q os povos germânicos, por exemplo) mostrarem q podem controlar seu lado mais animal, em culturas propensas ao comportamento irracional, ao inconsciente. Norbert Elias apontou q os processos civilizatórios no Ocidente não seguem adiante sem espaços nos quais a violência possa ser coletivamente trabalhada.
 Ok, sendo assim, q as arenas de MMA tomem definitivamente o lugar das touradas só finalizando com a morte de pelo menos um dos lutadores no mais autêntico estilo do Império Romano. A diferença é q o sacrifício de um humano supostamente consciente dos riscos da profissão não é tão covarde quanto o de um animal q sequer tem a escolha de não estar ali. Quanto aos sacrifício de animais em rituais religiosos, será q esses são mais cruéis e evitáveis que o abate animal (principalmente nos países com menor controle sanitário) para alimentação? Olé!!!

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ética X Moral

Nos últimos dias a relação entre o fálico mundo dos esportes e a sexualidade  vem ganhando possibilidades de questionamento e ressignificação. Se por um lado, uma declaração do ícone olímpico Yelena Isinbayeva (e também sex symbol numa área na qual geralmente as mulheres são estereotipadas como pouco femininas)  reforçou uma certa aversão aos gays q por respeito a "identidade" da Rússia,  deveriam se manter dentro do armário. Essa declaração  causou amplo mal-estar ao redor do globo,  inclusive,  tal mal-estar  a fez recuar, ao se declarar mal interpretada. Por outro lado, o gesto do jogador de futebol corinthiano, Emerson Sheik, ao dar um selinho num amigo (q aparentemente nem é gay) não foi menos polêmico. Enquanto seus colegas de clube curtiram numa boa, alguns  torcedores foram ao Centro de Treinamento protestar com cartazes q diziam "viado não", "aqui é lugar de homem". 
Quando questões como essas começam a sair do armário e entrar em campo  cada qual tem direito de se manifestar de acordo com seus valores (em tese, tais manifestações ganham contornos democraticamente legítimos quando não atropelam os valores de outros). Contudo, a fala de Isinbayeva foi uma crítica aos gays dentro do contexto público russo, enquanto o gesto de Sheik aconteceu no seu espaço privado se referindo a sua imagem pública. Assim sendo, Isinbayeva tentou ditar uma regra moral determinando o certo e o errado para ser praticado no espaço público. Já Emerson Sheik usou o espaço público para afirmar q sua vida privada não é refém da moral dominante: "era o Emerson pessoa, não o jogador", como ele posteriormente apontou como  precisão ética
No atual contexto em q imagens midiaticamente difundidas valem mais q centenas de dissertações e teses, as palavras da primeira foram um salto pra trás enquanto o gesto do segundo foi um gol de placa. Está na hora do mundo dos esportes entrar no Século XXI (o debate cercado de hipocrisia sobre o uso de doping é outra área nevrálgica nesse embate), pois as varas e as bolas do mesmo jeito q fazem ganhar, podem fazer perder, principalmente quando se busca atingir uma meta q já foi superada pelo correr do próprio tempo social. A(s) cultura(s) cada vez mais precisa(m) de ética e cada vez menos de moral.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Um toque de classe



Tem sido ventilado q há uma nova Classe Média em atividade, abrangendo, grosso modo, àqueles q os institutos de pesquisa com seus censos e surveys de fim de semana batizaram anteriormente como pertencentes às Classes C e D. Esse referido segmento da população equivale aos q, na última década, passaram da condição de pobreza, na qual apenas consumiam o suficiente para se manterem vivos e com potencial de trabalho (geralmente sem carteira assinada), a condição de incluídos na cultura de consumo, na qual frequentam Shopping Centers não apenas para namorar vitrines. Q estes cidadãos possuem um maior potencial de consumo é fácil de constatar em sentidos amplos e ambivalentes - basta lembrar q o País deixou de ter muita gente passando fome para ter um grande segmento populacional q corre risco de sofrer com os danos da obesidade. Mas seria justo rotular esse segmento de nova Classe Média?
Um ponto q parece fundamental para definir sociologicamente a categoria Classe Média é q seus “frequentadores” tenham posse de um determinado capital cultural incontornável, o tempo. Vejo algumas pessoas q deixaram de ser pobres e desfilam por aí com seus carros cujo modelo é trocado todo ano, com seus smartphones e tablets de última geração, suas novas moradias em bairros q podem ser considerados luxuosos com seus requintes de segurança, mas trabalhando de domingo a domingo para manter esse padrão de ostentação, alguns com  financiamentos e dívidas sempre por vencer.  No arriar das malas, quando viajam pra Buenos Aires ou Miami, assim q chegam já estão arrumando as malas pra voltar (claro q essas 24 ou 48h estarão amplamente registradas no Facebook e no Instagram) e possivelmente dizem: descansar é perda de tempo.

Se a antiga Classe Média se dava ao luxo de trabalhar dentro de um tempo planejado (levando em conta q boa parte dela vivia no cabide de emprego q a geração getulista herdou só pisando na repartição para receber o contracheque, mas também levando em conta os q trabalhavam no máximo dez meses e meio por ano, considerando férias e feriados, para aproveitar o mês e meio restante) essa nova Classe Média quase não pode se dar ao luxo de ter férias.  A única exceção q vai se configurando como possibilidade para  usufruir o “tempo” enquanto um capital cultural tornado exótico, está ao alcance dos oriundos da Classe Alta, totalmente incluídos na cultura de consumo, e  cujo ócio pode ser criativo ou não. Por outro lado, os q são chamados de párias e de marginais, (muitas vezes sobrevivendo em situação de vulnerabilidade), pelo gradual enxugamento do mercado de trabalho não sendo candidatos a inclusão econômica, pelo menos não no mercado formal, são os q mais trabalham. E pelo q temos visto, pra ser um marginal de longa durabilidade no Brasil (q não se confunda esse sobrevivente com os malandros de terno e gravata q circulam por aí) é preciso trabalhar muito, sem tempo pra pensar no valor do relógio ou no sentido da Classe na qual são incluídos por terceiros.

terça-feira, 23 de julho de 2013

Simples assim...

"A simplicidade é o último grau da sofisticação"  é uma fala de Leonardo (aquele q nasceu em Vinci) q está na moda. Alguns se referem a simplicidade como se implicitamente essa fosse algo q vem do "berço" e q as pessoas não devem perder de vista cedendo as tentações do ego. Talvez  não  seja tão simples assim, pois a simplicidade é uma construção, é algo q precisa ser processado ao longo da vida q tende a ser bastante complexa nas possibilidades abertas de relacionamentos com família, amigos, estudos, trabalho, etc.
Uma visão muito simplista da realidade não torna a vida de ninguém mais simples de ser vivida, levando, na melhor das hipóteses, ao simplismo nas resoluções o q pode acabar só complicando o percurso.   Além disso, a simplicidade tende a ser o resultado processado por aqueles q encaram as complexidades do viver sem se amarrarem às receitas e fórmulas vendidas prontas, como aquelas encontradas em livros de auto-ajuda  ou  em programas de televisão q ensinam como ser feliz em doze passos. É nos limites desse amplo contexto  q a simplicidade deve ser vivida como o último grau de sofisticação (sofisticação aqui não é sinônimo de  requinte, de luxo, mas sinônimo de elaboração, de reflexão), um processo q pode levar décadas para ser bem assimilado. Parece complexo? Simples assim...


Hoje é dia de ...

Ultimamente vem sendo lugar comum comemorar dia disso, dia daquilo,  de modo q tais comemorações já não dizem nada além de uma busca por por ter o q comemorar, o q  demonstra como as pessoas estão ansiosas na demanda por felicidade cotidiana. Pra quebrar o protocolo vou tirar uma onda no Dia do Rock (13/07), pois se o Rock ainda é Roll ( não confundir com "O Rock Errou") q esse dia marque a necessidade q temos de não levar muito a sério a caretice e a falta de perspectiva existencial q esse mundinho cada vez mais fundamentalista está querendo impor. Let's Rock, porra!


Foto: Antes que eu me esqueça, amanhã é o dia do Rock. It's only Rock'n'Roll but, I like.



sábado, 22 de junho de 2013

Passe Livre

Passe livre! Sim, o passe livre deveria ser um passaporte incondicional q todo cidadão possui num Estado Democrático de Direito para garantir o q está posto na Constituição, seu direito de ir e vir. Ir e vir tanto no sentido simbólico - entre um valor e outro; seja valor religioso, valor de gênero, valor étnico,  valor de classe, valor etário, etc - quanto no sentido pragmático, garantindo assim, minimamente sua tão necessária mobilidade urbana.     

Na prática, sabemos q nenhum dos dois níveis de mobilidade está garantido e o sentido imediato imputado pelo/ao Movimento q se move pelas ruas de algumas cidades do país  é o sentido da mobilidade possível e necessária para disparar as outras duas, mobilidade q começou em grande parte com jovens universitários de classe média e chegou aos mais variados setores da população, alguns até então vistos como incompatíveis.  Nesse sentido,  seria ingênuo, tanto acreditar q as manifestações em curso se referem aos R$ 0.20, quanto achar q as possíveis soluções sejam efetivadas num curto prazo. Lembrando q tais manifestações apontam os dedos médios para a crise de representatividade político-social brasileira (e também global) durante, não por acaso, o período da Copa das Confederações, o governo deve renovar suas representações frente ao seus eleitores atuais e futuros por intermédio de reformas políticas-administrativas até o início da Copa do Mundo, pois esse é o ponto de chegada da atual  Copa. 

Se até lá tais reformas não surtirem efeito, todo esse projeto de governabilidade vai promover seu grande gol-contra, já q em doze meses o Passe Livre tende a se organizar  e programar objetivos construídos em forma de pauta de reivindicações,  pois nesse momento presente o objetivo foi muito mais desconstruir as bases de um sistema de representações falido. Para ambos os lados, basta lembrar q todo o investimento em estádios e infra-estrutura só será amplamente lucrativo se a próxima Copa for um êxito, a atual só tem potencial para gerar capital político, excetuando, claro,  os superfaturamentos q já foram amplamente divulgados. E nem é preciso dizer q os desdobramentos desse projeto, q se estende até as Olimpíadas, se tornarão uma operação de altíssimo risco.

Desse modo, o aviso está dado, as sementes foram bem plantadas,  mas q a população não espere colher frutos de imediato, de imediato só foi garantido q a mobilidade da cidadania construída em busca de seus direitos voltou  a correr pelas ruas do país entre postagens em redes sociais, balas de borracha e spray de pimenta.




quarta-feira, 13 de março de 2013

O Salvador, seus Santos e seu rebanho


Ontem pela manhã estava no Q.G. das Voluntárias Sociais no Canela - bairro nobre da Cidade de Salvador - ministrando uma aula sobre a cultura dos usuários e usos de drogas para os Jovens Aprendizes e no intervalo o faxineiro se aproximou, questionou se eu era professor e como eu disse que era, ele me fez lançou uma questão: "veja se é intolerante", disse, e em seguida me mostrou uma música gospel, q ele compôs. A letra dizia mais ou menos assim: "Essa é a terra de Todos os Santos/ mas só tem um Salvador/viva o Senhor/ Senhor de Todos os Santos/ o único Salvador..." Eu, muito sutilmente, disse q era intolerante, pois com tantos Santos, como ele poderia afirmar q o seu Senhor era o único Salvador? Ele "aparentemente" concordou, sorriu amarelo e continuou com sua faxina. Será q se eu não fosse professor ele teria assimilado minha resposta sem rebater?




sábado, 2 de março de 2013

Quantos atos cabem numa cena aberta?


Vc e um amigo devoram o tempo numa mesa de bar. De repente vc diz pra ele q fulano na mesa ao lado tentando seduzir uma garota, cometeu um ato fálico e se deu mal. Seu amigo te olha incrédulo e diz q vc ao falar, acabou de cometer um ato falho. Vc olha de lado,  meneia a cabeça negativamente e diz: Não, o ato de fulano foi fálico,  a sua interpretação da minha fala é q foi falha. Ambos silenciam e continuam sorvendo suas cervejas. A garota da mesa ao lado diz pro fulano sair fora q ela tá em outra. Fim do atos.


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Devorado no Carnaval


Madrugada do domingo de Carnaval. Entregue ao cansaço, joguei meu corpo na cama.  Em poucos instantes o cansaço sumiu e meu corpo começou a ser provocado, mexido, bolinado. Acreditei q estava entregue num ritual pagão, tipicamente carnavalesco, pré-cristão, e minha carne estava sendo devorada por insaciáveis Bacantes q em breve fariam do meu sangue, vinho, bebido direto da fonte.
Então, não sei por que, no auge do êxtase acordei, e dei conta q o cenário estava mais para Daniel na cova dos Leões, só q um Daniel desprovido de fé. O q provocava, mexia e bolinava meu corpo  era um bando de muriçocas insaciáveis...


quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Oração de amor ao próximo

Quem é vc q me lê e finge q não?
Quem vc pensa q é me julgando calado por dizer o q vc não consegue?
Quem é vc q me culpa por não temer q vc não me ame?


Vivendo e aprendendo

Nos tempos em q prestava conta dos meus atos para mim mesmo, vivia cheio de dívidas...



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Luz, câmera, ação!


Dois filmes q estão chamando a atenção no começo de 2013 são Django Livre e Lincoln.  Há muitos pontos entre os dois q podem ser linkados. Pra começar, ambos os títulos trazem os nomes dos personagens centrais, acontecem num período histórico próximo e sustentam a questão da escravidão como eixo – claro, além de serem blockbusters. Mas esses pontos os aproximam até certo limite, limite q não deve fazê-los serem interpretados com os mesmos referenciais.
Pra começar, Django Livre não deve ser interpretado pela perspectiva histórica, pois se assim for feito, muitos poderão ter dificuldades para adentrar no universo criado por Tarantino – como já aconteceu com Bastardos Inglórios, sobre o qual ouvi comentários  execrando-o já q:  “Hitler não morreu incinerado num cinema”.  Mas essa busca por referências históricas ainda acontece. Entretanto, se Django Livre não deve ser visto como uma aula de história há elementos históricos em suas entrelinhas.
Esses dias, ouvi um comentário de alguém incomodado com Jamie Fox – ator q interpreta Django - achando-o inexpressivo, apático para um escravo em busca de vingança e sendo assim, o ator correto para o papel seria... Will Smith! Claro q uma das questões mágicas do cinema, é permitir q o espectador projete na tela sua própria “viagem”, mas acreditar q a performance do ator está livre do dedo do diretor é outra coisa.  A postura de Fox na pele do personagem, durante quase todo o filme, é a de ser suporte para os personagens de C. Waltz, D. Johnson, L. De Caprio e S.L. Jackson q dominam as cenas nas quais estão presentes. O q isso pode indicar? Pode indicar alguém q durante boa parte de sua vida foi deixado em segundo plano, como era comum acontecer com os escravos, sem expressão protagonizante ou carismática.  O filme se chamar Django Livre não quer dizer q o personagem seja livre durante todo o filme, e isso só acontece na parte final, quando aí sim, ele se torna o protagonista.
Lincoln, pode e deve ser interpretado como um filme histórico. Se Django Livre acontece às vésperas da Guerra de Civil estadunidense, Lincoln, cujo homônimo  indiscutivelmente é o protagonista em todas as cenas, acontece durante a guerra. Um dos aspectos centrais do personagem principal – mais uma interpretação  hipnotizante de D.D. Lewis - reeleito para o seu segundo mandato como presidente, é a luta pela abolição.  Diferentemente do q vem sendo dito sobre a película, o objetivo central do Presidente Lincoln é reestabelecer a união da Nação e não a abolição. Isso não deve ser interpretado como usar a abolição apenas para reestabelecer a união, pois seu interesse  em torno da extinção da escravidão é legítimo, mas a Nação está acima dos homens.
 Sendo um filme de Spielberg, é curioso notar q quase não há ação, o q não é muito comum em sua obra. Talvez não se deva esperar um filme de ação quando o personagem central é um presidente, mas se lembrarmos q em 2012 foi exibido um filme chamado “Abraham Lincoln –  caçador de vampiros”,  na cabeça de alguns ou mesmo de muitos espectadores talvez ação  tenha sido o esperado. Não por acaso vi alguns espectadores saindo antes do fim, possivelmente por ser um longo filme com longos diálogos.  Já o filme de Tarantino está batendo recordes de público em relação aos filmes do diretor no país, a ponto de ter algumas versões dubladas, o q não é comum para um filme q não é infantil. A ação desse filme também difere dos  filmes anteriores de Tarantino em grande parte por ser trabalhada num roteiro mais linear – sim, não há histórias múltiplas nem diálogos enigmáticos – e concentrada em algumas cenas, não na maioria.
Por fim, não deixa de ser perceptível q ambos os filmes  estão em evidência no momento em q Obama começa seu segundo mandato. O q isso quer dizer? A realidade histórica é diferente da realidade fílmica, mas há interpenetrações e o  público nem sempre percebe a fronteira. Com certeza Obama não é Lincoln nem é um ex-escravo em busca de vingança, mas como os espectadores q assistiram ambos os filmes saem dos cinemas passam a encarar a realidade da reeleição de um presidente negro no chamado “pais mais poderoso do planeta”? Vão esperar  respostas nas políticas públicas estadunidenses? Vão esperar respostas na premiação do Oscar? E aqui no Brasil, vamos passar a entender as relações étnicas e raciais por um ângulo diferenciado? Ou será q vamos esperar a continuação de algum desses filmes pra saber?




segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Panis et circencis

Nos últimos doze meses - pelo menos - tenho observado q as instituições q mais proliferam pela cidade de Salvador são as igrejas evangélicas (q obviedade) e o Subway. Difícil andar três quarteirões sem encontrar pelo menos uma destas. No condomínio no qual  resido - e q em tese deveria ser exclusivamente residencial - ao sair na noite de sábado foi no mínimo curioso observar uma Igreja Pentecostal no horário do culto dividindo parede com um bar, no qual rolava música ao vivo. Parei o carro pra observar o duelo do Pastor com o cantor pra quebrar a barreira dos decibéis. Se ficasse mais tempo observando com certeza veria alguém pegando uma cerveja de um lado e depois tomando um banho de descarrego do outro, ou quem sabe, vice-versa.                                                                          

No caso do Subway, é possível valorizar a quebra da hegemonia do McDonald's, entretanto, o risco de trocar o seis por meia dúzia não vai diminuir tanto assim a taxa de obesidade da população. A interatividade q "permite" aos consumidores a montagem de seus sanduíches, cria a ilusão de uma autonomia q os coloca no controle da situação. E isso os leva a comer sem culpa. Nesse contexto, entra ano, sai ano e continuamos na Era do Pão e circo...


sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A queda de um herói ou do heroísmo?


Ao  assistir a entrevista que Oprah Winfrey realizou com Lance Armstrong, o ciclista sete vezes vencedor da Volta da França retroativamente acusado de doping, uma  questão chamou a atenção. Em meio às repetidas tentativas de Oprah para arrancar de Lance uma confissão de culpa, já que por anos ele negou o doping,  em algum momento ela pergunta se o que ele fez não foi uma tentativa de obter vantagem sobre seus concorrentes.  Armstrong responde que  o seu objetivo foi uma tentativa de se igualar aos outros. Ela atropela essa resposta e continua buscando a confissão de uma atitude antiesportiva, antiética, o que aos poucos foi acontecendo.  Essa fala de Lance sobre “busca por igualdade” extrai do subterrâneo algo que alguns especialistas na área apontam e que também não é muito escutado: Desde os Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, praticamente nenhum recorde é quebrado sem o uso de substâncias ilegais. Mas se o uso de doping é tão comum, por que esse escândalo agora?
Vale apontar que só a partir de meados de 2005, as condições tecnológicas permitem detectar o que até então era chamado de doping invisível – e no caso de Lance, como amostras de sua urina foram congeladas a partir de 1999, foi possível realizar análises que levaram a resultados retroativos. Nessa configuração, é preciso ressaltar que ele venceu a prova mais badalada do ciclismo por sete vezes – algo sem precedentes – e, como ele mesmo diz repetidamente na entrevista, era um cara muito arrogante,  a ponto de defensivamente, processar durante todo esse período, muitos dos que levantaram alguma suspeita sobre sua idoneidade. Mas a questão central não pode ser esquecida,  o doping está tão infiltrado em meio as performances de ponta que novas substâncias continuarão sendo elaboradas em laboratórios para burlar as tecnologias antidoping, pois em caso contrário os Jogos Olímpicos não trarão muitos recordes quebrados, e, numa sociedade competitiva como a atual, isso seria uma prova de fracasso na eterna busca por superação dos limites do ser humano. Isso faria, por exemplo, a Nike vender menos, o Gatorade lucrar menos, o ESPN faturar menos, etc...
Muito além da busca de Armstrong por vitórias é preciso atentar que é o atual modelo vigente na Cultura de Consumo  que forja o doping, assim como forja sua condenação. Assim, um simplório julgamento moral do comportamento de Armstrong, será reforçar a culpa de um. Uma leitura ética desse contexto pode indicar que a responsabilidade é de muitos, principalmente dos que trabalham nos bastidores, como por exemplo: nos laboratórios, nos comitês olímpicos, nos congressos e nas agências de publicidade.
                                                                                                                 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Depois do fim o começo

Confúcio diria: hoje começa o ano novo de um novo dia. Já o confuso questionaria: tá começando o dia ou começando o ano?