sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

A queda de um herói ou do heroísmo?


Ao  assistir a entrevista que Oprah Winfrey realizou com Lance Armstrong, o ciclista sete vezes vencedor da Volta da França retroativamente acusado de doping, uma  questão chamou a atenção. Em meio às repetidas tentativas de Oprah para arrancar de Lance uma confissão de culpa, já que por anos ele negou o doping,  em algum momento ela pergunta se o que ele fez não foi uma tentativa de obter vantagem sobre seus concorrentes.  Armstrong responde que  o seu objetivo foi uma tentativa de se igualar aos outros. Ela atropela essa resposta e continua buscando a confissão de uma atitude antiesportiva, antiética, o que aos poucos foi acontecendo.  Essa fala de Lance sobre “busca por igualdade” extrai do subterrâneo algo que alguns especialistas na área apontam e que também não é muito escutado: Desde os Jogos Olímpicos de Barcelona em 1992, praticamente nenhum recorde é quebrado sem o uso de substâncias ilegais. Mas se o uso de doping é tão comum, por que esse escândalo agora?
Vale apontar que só a partir de meados de 2005, as condições tecnológicas permitem detectar o que até então era chamado de doping invisível – e no caso de Lance, como amostras de sua urina foram congeladas a partir de 1999, foi possível realizar análises que levaram a resultados retroativos. Nessa configuração, é preciso ressaltar que ele venceu a prova mais badalada do ciclismo por sete vezes – algo sem precedentes – e, como ele mesmo diz repetidamente na entrevista, era um cara muito arrogante,  a ponto de defensivamente, processar durante todo esse período, muitos dos que levantaram alguma suspeita sobre sua idoneidade. Mas a questão central não pode ser esquecida,  o doping está tão infiltrado em meio as performances de ponta que novas substâncias continuarão sendo elaboradas em laboratórios para burlar as tecnologias antidoping, pois em caso contrário os Jogos Olímpicos não trarão muitos recordes quebrados, e, numa sociedade competitiva como a atual, isso seria uma prova de fracasso na eterna busca por superação dos limites do ser humano. Isso faria, por exemplo, a Nike vender menos, o Gatorade lucrar menos, o ESPN faturar menos, etc...
Muito além da busca de Armstrong por vitórias é preciso atentar que é o atual modelo vigente na Cultura de Consumo  que forja o doping, assim como forja sua condenação. Assim, um simplório julgamento moral do comportamento de Armstrong, será reforçar a culpa de um. Uma leitura ética desse contexto pode indicar que a responsabilidade é de muitos, principalmente dos que trabalham nos bastidores, como por exemplo: nos laboratórios, nos comitês olímpicos, nos congressos e nas agências de publicidade.