quarta-feira, 14 de março de 2012

14 de Março

 Dizem que o dia 14 de março é o dia da Poesia. Besteira, não acredito nisso não! Esse tipo de coisa não tem dia  nem hora. Na verdade, é coisa de quem tá além dos limites do Tempo. Você dedicaria um só dia pra poesia? Eu não, não mesmo. O + absurdo é que até já me chamaram de poeta. Eu?
  Poeta Não!
Não sou poeta
 às vezes triste,às vezes alegre
e quando não, minto
Não sei definir tristeza, nem alegria
apenas minto
fazendo de conta que sou poeta
Minto com classe, com pompa
minto na cara da verdade
com elegância, pois sou educado
mesmo sem ter lido o Livro
Disseram um dia
que eu seria político, advogado, profeta
mas como o emblema da palavra
não bastou  pra faze-la falar
  decidi calado
acordado me dizer  poeta,
pois não há verso longo
mais eloqüente que o silêncio curto
nem texto curto 
mais envolvente que o silêncio longo
Foi então que certa noite
eles  trouxeram o Livro
e lá estava escrito:
"todo artista é um canibal, todo poeta é um ladrão!”
Diante do silêncio, o barulho fez sentido
virei rebelde, virei travesso, virei pelo avesso
mas nem cheguei perto do efeito;
meu verso não soava direito
e pela sintaxe eu não tinha respeito,
só que o branco pede o preto
e  um fulano meio cego  me achou legal
e um sicrano meio surdo me achou bacana
“eu não entendo o que você fala,
nem discordo do que você diz,
mas é  porque em você
 fala o poeta do verniz!”
Entre  espelhos imodestos
senti repulsa pelo verso
 desenhado por  minhas mãos
e eles ainda juraram
 que tal sina era infinita,
 se a carreira eu abandonasse
 como  Poeta Maldito
 com sucesso me venderiam,
ou mesmo se dramaticamente
 eu me matasse
 aí romanticamente achariam
um poético suicídio
Em vez de eu virar poeta,
a mentira virou verdade
eu, um profeta sem legado
mas cadê a felicidade?
Minha vida 
um poema trágico se tornou
enquanto nem mesmo  cômico
                                          meu verso soou
Será Deus o verdadeiro poeta
e eu  fruto de sua imaginação?
Ou será o Diabo que escreve
através de minha mão?


Dia da poesia, que piada! Fala a verdade, você acredita mesmo nisso? Eu não!

   
Poesia Não!
Não me encontre no verbo 
claro,  preciso, fluente
onde as coisas estão
 parciais,  tranquilas, torpentes
 preciso de um golpe tenso
denso e obscuro no seu urgente
Não me enxergue no verso
 métrico,  alexandrino, coerente
onde estão as coisas
 óbvias, medianas, prudentes
demando um choque intenso
eterno no seu presente
Assim como  palavra de ordem 
faz barulho
o calar que consente
fala  mudo
pois se a mensagem cifrada
não é dita
a palavra falada
já foi escrita
Não me ache nesse texto 
normal,  direto, fraternal
necessito de um certo piso
 quente,  áspero,  contundente
as coisas estão onde 
não há quem as sustente
Não me perca nesse contexto
 plástico,  asséptico, transparente
pênaltis cavam-se em terrenos 
verdes, vivos, reluzentes 
as coisas onde estão 
tornam-se reticentes...
O telegrama fonado
é sempre falado
bem como o porta voz do estado
sorri calado 
Cem palavras-chaves
não abrem 1 porta,
pois o livro acabou 
em linhas tortas...