terça-feira, 17 de setembro de 2013

Obsolescência programada



A obsolescência programada é uma das características mais duradouras da Cultura de Consumo, pra não dizer q é sua característica central. Os produtos já nascem com validade vencida, e, diferentemente dos organismos animais e vegetais, essa validade não é vencida pela fadiga processual do sistema orgânico, mas em função da sobrevida do sistema econômico e cultural q o gera. Assim, automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos duram menos do q potencialmente poderiam durar, para q sejam descartalizados e substituídos por outros modelos tecnologicamente mais sofisticados, o q assegura a sobrevida dos fabricantes. Às vezes são substituídos sem mesmo apresentarem problemas, basta q surjam novos modelos com variações mínimas. O processo está tão naturalizado q, por exemplo, o espanhol Benito Muros recebeu sérias ameaças por ter desenvolvido uma lâmpada de longa durabilidade, na prática cancelando  a máxima “Fiat Lux”.


Outro aspecto central da Cultura de Consumo e q geralmente não está tão relacionado à obsolescência programada é q as relações e os sentimentos também devem ter uma data de validade não muito longa, pois assim asseguram q os vínculos, num curto prazo, gerarão menos desconfortos por haver menos comprometimento. Quanto menor for o comprometimento vincular entre um sujeito e outro, mais fácil vai ser guiar as demandas dos sujeitos de um objeto de consumo a outro de modo substitutivo. Dessa forma, as relações entre sujeitos cada vez mais serão intermediadas por relações com objetos q precisam ser trocados num prazo cada vez mais curto incluindo os pontuadores do q é normal e do q é patológico nas interações sociais. A cada dois ou três anos a Indústria dos fármacos psiquiátricos surge com um novo transtorno mental e consequentemente com novos remédios para combatê-lo (hoje, quase todo mundo é bipolar, quase toda criança é hiperativa, etc), Na política, esse raciocínio se aplica ao q é normal e ao q é desviante. A cada mandato vencido vemos q os políticos eleitos fracassaram e precisam ser substituídos por outros q não são muito diferentes  dos q os antecederam, repetindo o processo nas próximas eleições, e assim segue, ad infinitum.


Só uma coisa não muda: A  mudança tem q ser eterna. Remetendo a Filosofia Clássica, percebe-se q Parmênides (grosso modo considerado o teórico da permanência) e Heráclito (considerando o teórico da mudança) não estão mais em oposição - particularmente acredito q nunca estiveram-, e sim fazendo parte de uma nova percepção: Enquanto não houver uma mudança realmente dialética nas relações de poder as mudanças q ocorrerem não mudarão quase nada a não ser de um objeto de consumo para outro, sendo q a satisfação gerada por ambos já nasce com validade vencida. Eis uma questão q não parece ter prazo de validade para ser resolvida.

Imagem: Umberto Boccioni