sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Presente de Natal

No Universo das relações diplomáticas um escambo pode preceder um escândalo. Se por um lado os EUA baixam a guarda para Cuba, por outro, a Coréia do Norte puxa o tapete (vermelho) de Hollywood. Business por business, o Papa Francisco faz selfie posando de Papai Noel... 


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Brincando nos campos do Senhor

O playground local pouco a pouco vai ganhando ares de show de horrores. Como se não bastasse juízes brincarem de Deus dando ordem de prisão pra quem come seus doces, Garotinho vai brincar de apertar os botões de controle do Banco do Brasil e Bolsonaro faz o papel de predador sexual dizendo que só estupra quem merece. Seguindo as regras desse jogo, perdedor é quem não pode brincar nesse playground, tendo que observar, passivamente.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Folha corrida

Nasci em Macondo no dia depois de hoje e antes de ontem. Meus pais irão nascer quando eu morrer e já estão disputando minha herança. Meus filhos cortaram todos os meus privilégios quando passei no vestibular e ao chegar do trabalho com o pagamento do dia eles me espancam e perguntam quando vou tomar  vergonha na cara e deixar de explora-los. Eles usam todas as minhas drogas e dizem que o vício é a única virtude que possuo.
 Meus vizinhos se queixam que meus animais de estimação não os incomodam e minha mulher enaltece minha transsexualidade como o mais autêntico sinal de fidelidade que manifesto. Meu carro é 0 km e o seguro se recusa a cobrir o prejuízo por ele estar enferrujado. Meu plano de saúde aguarda o dia em que eu desenvolva doenças incuráveis para  me premiar como o cliente do ano. Minha teraputa ou tarapeuta diz que pacientes como eu não aderem ao tratamento, apenas fundam Igrejas nas quais se reza para entrar e se paga para sair.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Prato feito

"É tanta coisa no menu que eu não sei o que comer". Essa fala de Raul em uma de suas músicas icônicas faz pensar que nem sempre a multiplicidade de ofertas amplia as opções do consumidor. Lembro que em algum momento do passado estava com uma namorada em um restaurante com uma larga oferta de sucos, muitos deles feitos com frutas exóticas. Eu pedi um de jabuticaba e minha acompanhante pediu um de laranja. Achei estranho que diante de tantas frutas incomuns ela tivesse pedido algo tão banal, e verbalizei tranquilamente minha reflexão. Ela replicou irritada que tinha o direito de escolher o que quisesse. Fiquei calado, mas silenciosamente pensei que aquela resposta era típica de quem não tinha disponibilidade para refletir sobre o como evitamos sair do que aparentemente é seguro e encontrar algo que pode gerar estranhamento.
Às vezes, muitas vezes, quanto maior for a oferta, menor é a variação das escolhas. No amor, na política, no lazer e no que mais houver. Talvez isso explique por que as relações sociais estejam tão polarizadas ultimamente. Para eu estar certo, você deve estar errado, sem posições intermediárias ou alternâncias de posicionamentos.  Desse jeito, o menu vai se transformando em manual, livro sagrado, constituição que não deve ser posta em xeque. Assim a vida vai se tornando um restaurante que serve um prato único, apesar do cardápio variado, e a única dúvida acaba sendo sobre o valor da gorjeta.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A Copa não acabou...

A fixação num ponto pode gerar cegueira em relação aos pontos ao redor.  Está sendo assim pra muita gente que abraçou essa eleição como a chance de reverter o 7X1 sofrido pelo Brasil - parece brincadeira, mas aquela derrota maculou o orgulho de pessoas que nem gostam de futebol. Só que ao abraçar esse ponto tais pessoas deixam claro que se importam menos com o Brasil do que com seu ego inflável, ego que escolheu a eleição como sua chance de se posicionar como vencedor - "vencer a dor", eis a questão implícita, segundo o Dr. Punk Freud. 
Ainda de acordo com o Dr. Punk Freud, é fácil perceber esse deslocamento, principalmente  para aqueles que mais uma vez amargaram uma derrota. Basta conferir que a maioria desses inconformados sequer se interessava por política pouco tempo atrás, alguns deles só se manifestando no último mês. Outro ponto sintomático dessa patologia pode ser conferido nos alvos que tais cidadãos e cidadãs elegem agora, passada a eleição. Postagem após postagem estão torcendo para que o projeto político do governo que permanecerá dê errado, para que assim eles provem que estavam e estão certos. Só esquecem, na cegueira em que se encontram, que agindo assim, agem também contra o Brasil que dizem defender até as últimas consequências. Analfabetismo político, ignorância e egotrip tudo ao mesmo tempo agora, eis a receita para mais uma derrota de goleada, e o pior, querendo arrastar os outros juntos, de norte a sul.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Hino da Primavera

Queria ter uma arma carregada com balas bem moderninhas. Balas recheadas de inteligência e criatividade pra meter na sua cabecinha anacrônica infestada por piolhos ideológicos escondidos sob o penteado da hora. Queria ter um punhal de prata pra enfiar alguma amorosidade em seu coração de silicone customizado numa franquia qualquer. Quem sabe mesmo ter uma bomba de sabedoria orgânica pra jogar na sua boca enquanto você repete o velho discurso que aprendeu num cursinho universitário de quinta categoria. Quem sabe portar o vírus  da originalidade pra injetar desejo em sua sexualidade de revista feminina. Mas para que isso aconteça você tem que fazer por merecer. Então, desabroche suas flores...


domingo, 7 de setembro de 2014

Ordem e Progresso!

Lembrando que hoje se comemora a Independência do Brasil e que o time escalado por Paulo Roberto Costa está causando mais impacto do que o time escalado por Dunga, a única reflexão que posso fazer é: Freudeu! Jungianamente falando, Lacaniaram a ordem e o progresso!


terça-feira, 26 de agosto de 2014

O luxo e o lixo

Pegando carona em Oscar Wilde, quando esse aponta que a verdadeira arte deve ser inútil, o que está em jogo  é o cancelamento de seu sentido utilitário ou de sua estética ligada a higienização do olhar (e do perceber, de modo geral) que se identifica rapidamente com suaves harmonias. Certa vez uma amiga disse que os grafiteiros deveriam embelezar as ruas da cidade. Um outro amigo replicou que uma boa arte não tem esse compromisso, podendo até tornar as ruas mais feias. Sim! O comprometimento político da arte está em fazer refletir sobre o tempo que vivemos  gerando um certo incômodo, jogando o ser numa certa zona de desconforto. Cancelar o sentido óbvio do que é facilmente agradável pode nos mostrar nossa própria inutilidade,  assim como a feiura socialmente construídas na medida em que somos levados quase sempre a consumir o que a cultura dominante estabelece como aquilo que deve ser lixo e o que deve ser luxo. Vale lembrar que do lixo pro luxo a diferença é de apenas "uma letra". Não por acaso muitos artistas contemporâneos usam o lixo como matéria prima. Não por  acaso o luxo depende da moda. Arte que não é politicamente provocativa não é arte, é apenas bem de consumo e bem de consumo que se preze rapidamente vira lixo pra que outro bem seja luxuosamente colocado em seu lugar. 

domingo, 24 de agosto de 2014

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Perguntas retóricas

Mais e mais perguntas sem perspectiva de  que sejam respondidas satisfatoriamente: na semana passada a Nestlé, que se propõe a ser  a detentora de grande parte do manancial de água potável do planeta, recolheu um lote da sua água São Lourenço em decorrência da proibição de sua venda por contaminação. Será que as pessoas vão parar de consumir tal água (pelo menos por um tempo) ou não vão olhar os produtos da Nestlé com outros olhos já que confiam na sua tradição? No último jogo entre Internacional X Grêmio em Porto Alegre alguns integrantes da torcida do Grêmio fizeram coro de "Fernandão morreu" em referência ao ídolo do time rival recentemente falecido num acidente de helicóptero. Essa atitude foi vaiada por grande parte da torcida do Inter, mas será que a moda de não respeitar sequer os mortos pegou irreversivelmente? Nos últimos dias a morte de um candidato a presidência em outro acidente aéreo também virou piada para alguns e qual é graça?
 E já que o assunto é morte,  o óbito do ator Robin Williams, de acordo com certo ponto de vista veiculado nas redes sociais, aconteceu em decorrência da fraqueza de alguém que sucumbiu ao mundo das drogas. Quem, especialista ou não no assunto, pode provar que isso aconteceu? Para além da morte física, muita gente que não apoiava o PT já está pensando em votar em Dilma com receio do fundamentalismo por trás da imagem opaca de Marina Silva. Será que a candidata petista e seus articuladores políticos já se arrependeram de tentarem se aproximar de Edir Macedo e similares, pois o voto evangélico agora já tem dono e o Partido dos Trabalhadores ficou embaraçado entre os eleitores mais críticos?
 Um crime com conotações raciais na cidade de Ferguson está fazendo os EUA reviverem os conflitos intensos que aconteceram em Los Angeles nos anos 90, mas será que isso serve de lição  para o restante do mundo compreender e responder às rasteiras relações de poder envolvendo a interação entre polícia e cidadãos? Amarildo no Rio de Janeiro e Geovane em Salvador foram vítimas de crimes perpetrados pela Polícia Militar e por que a reação da população local não passa de lamentos nas redes sociais? Alguns dizem que a violência da faixa de Gaza acontece em maior escala aqui no Brasil, mas com essa postura quase passiva da maioria dos cidadãos, quem apoia os sionistas e quem apoia os insurgentes? 
Deixa quieto! São apenas perguntas que não encontram respostas nem no consultório do Dr. Punk Freud nem no oráculo Google. Vamos continuar curtindo, comentando e compartilhando o reality show cotidiano pois entre uma e outra mensagem de autoajuda encontraremos a fórmula da felicidade...


sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Curta metragem

Nessa cultura do curtir, comentar e compartilhar eu sempre comento e compartilho: curta a vida pois a vida é curta!


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O show não pode parar!

Não desanime! O mundo precisa de seu sorriso pra fazer do amanhã um dia melhor, afinal, sem o circo, seria fácil perceber que o pão está duro e a manteiga com a validade vencida...


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Não mentirás!

Num mundo ideal o bom político é aquele que no horário eleitoral obrigatório na televisão seria capaz de jurar que só mente quando inevitável.


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Psicologia do cotidiano


Não bebo café pra acordar
nem tomo Rivotril pra dormir.
Não jogo cartas ou dominó, 
desdenho convites para games
e nem sequer acho graça em tirar onda com a torcida do time rival.
Não vejo poesia em selfie diário
 com ou sem biquinho.
Acho patético mensagem de autoajuda
assim como,
narcisismo político  partidário e propaganda da própria igreja.       
Passo batido pelo "bom dia!" formalizado
e no conforto quase social da rede
que balança sem sair do lugar
não curto por curtir pois a vida é muito curta pra viver de pose
seja pose de bom menino, bom amigo, bom colega, bom parente, bom amante 
ou qualquer imposição que tenha que ser politicamente correta por decreto.
E se você achar essa mensagem negativa,
Bem, isso não é problema meu...


sexta-feira, 18 de julho de 2014

À espera dos Super-Heróis!

Mudanças curiosas estão acontecendo no panorama mundial. Nas últimas  três semanas alguns heróis de carne e osso deixaram a cultura do planeta órfã com seus falecimentos: Bobby Womack, Johnny Winter, João Ubaldo Ribeiro. Por outro lado, um tipo diferente de herói vai passando por transformações que deixam algumas "minorias" menos órfãs: O Capitão América passará a ser negro e Thor será  mulher, pelo menos nas versões em quadrinhos. 
Ampliando as dimensões do quadro, o heroísmo parece realmente estar fora de moda: Nas últimas duas semanas a Faixa de Gaza se transformou num grande cemitério e mais um avião da  Malaysia Airlines se tornou veículo da última viagem para muitas dezenas de pessoas (entre essas, cerca de uma centena de cientistas que faziam pesquisas "sem fins lucrativos" para encontrar uma cura para a AIDS), dessa vez  confirmadamente por intervenção intencional de alguns.
Há outro tipo de morte e de renascimento nesses últimos dias:  a do futebol brasileiro e do alemão são exemplos que fazem a cultura  desses dois países - não apenas, mas principalmente -  serem vistas de outra forma. A primeira, prisioneira da ganância dos pajés da tribo e do sentimentalismo dos guerreiros e dos seus seguidores. A segunda, empoderada pela racionalidade dos líderes que não desprezam a administração das emoções dos seguidores e dos adversários.
Pensando bem, será que realmente são mudanças ou é a continuidade de um tempo no qual o contraste entre o muito que se pode fazer e a imensa dificuldade em realizá-lo é cada vez mais evidente? Sim, pois até a morte pode ser adiada ou transmutada, principalmente quando se dispõe de tantos recursos tecnológicos como hoje - dos transplantes de células tronco a aplicações de ozônio. O problema é que a disponibilidade de tais recursos é inversamente proporcional a disponibilidade ética de correr atrás do bom senso político, pois esses e outros procedimentos do gênero são "caros"! 
Ok, ano passado um super-herói gay saiu do armário, o Lanterna Verde, agora um outro muda de etnia e um terceiro muda de gênero. Mas esse punhado de super-heróis politicamente corretos é muito pouco pra salvar esse mundinho tão esquizofrenizado. Ou não? Será que eles conseguiriam equilibrar a influência da economia no mundo da política? Será que eles conseguiriam fazer os radicais com seus fundamentalismos políticos e religiosos baixarem a guarda? Será que eles poderiam fazer a música, a literatura e o futebol se tornarem menos bens de consumo e mais ferramentas culturais de transcendência? Se conseguirem, esse mundo (nos moldes contemporâneos) talvez ainda tenha chances de retardar ou transmutar a sua morte.


segunda-feira, 14 de julho de 2014

A recolonização do Brasil

   Há pouquíssimo tempo a recolonização do país começou a acontecer sem que muitos percebessem. E começou pelo mesmo lugar da primeira colonização, pela costa do descobrimento,  no sul da Bahia. Para que tudo seguisse um curso karmicamente leve, os novos colonizadores deram seguimento a sua jornada atropelando os antigos colonizadores numa batalha que venceram sem deixar dúvidas sobre sua superioridade numa Arena chamada Fonte Nova, e venceram  atingindo mortalmente o adversário por 4 vezes, sem terem sido atingidos uma única vez.
    Esses colonizadores que pouco antes dessa batalha haviam vestido o uniforme da tribo tricolor, a mais popular da região, depois dessa primeira disputa campal  voltaram para o sul do estado e continuaram estreitando laços com os nativos com muita naturalidade. Alguns desses colonizadores posaram vestindo um outro uniforme de batalha, o do nativo, aquele no qual se veste algumas tintas sobre a pele nua, dançando numa pajelança  quase antropofágica como se fossem parte dos que ali nasceram, devorando-os e por estes sendo devorados, conseguindo assim uma benção, um acolhimento aparentemente  incondicional. E nada da frieza com a qual foram midiaticamente tratados por anos, por décadas. Os guerreiros que vieram do frio chegaram sob o sol tropical e não tiveram receio de queimar suas peles.                           
   Eles, que enquanto guerreiros conquistadores, nas batalhas travadas nos campos da França em 1938 anexaram a tribo austríaca às suas fileiras sem nenhum vestígio de civilidade. Mas os tempos são outros e no agora, o anexar foi trocado pelo cooptar, o que soa mais civilizado.  No momento final de sua presente conquista, os recolonizadores do Brasil foram ao templo maior do planeta, na chamada "cidade maravilhosa" e bateram os eternos rivais hermanos do povo nativo sem soberba, sem cânticos de escárnio, apenas comemoraram realizando uma dança tribal, com os passos nativos aprendidos pouco antes, sob o olhar de bilhões de espectadores. Agora, esses guerreiros que vieram do frio voltam para casa com a sensação de missão cumprida, com o Santo Graal nas mãos e mais; com a fidelidade do povo conquistado garantida, pois uma conquista que não é sangrenta tem tudo para  ser prolongada por muito tempo. Pactos irão acontecer em função dessa recolonização que não se concretiza com a migração de pessoas, mas sim de valores organizacionais e estruturais. Esses pactos só daqui a quatro anos ou mais poderão ser medidos em extensão ampla, mas com certeza irão além dos campos de batalha atuais (os sete golpes atordoantes desferidos contra os nativos foram assimilados muito mais como falha dos nativos do que como um ataque dos forasteiros) e atingirão outros campos de atuação tão politicamente importantes quanto. 



domingo, 6 de julho de 2014

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Gol de placa!

        Talvez seja necessário lançar um outro olhar sobre essa Copa do Mundo, para além daquele olhar que só quer enxergar sua seleção favorita como campeã. Tim Howard,  o goleiro dos EUA, na infância foi diagnosticado com a Síndrome de Tourette e atualmente seu nome está amplamente associado a uma fundação que combate esse transtorno. Alguns críticos o apontam como o melhor goleiro dessa Copa e nem de longe se fala sobre tal síndrome como um limite ao seu talento. Especula-se que Lionel Messi, o atacante argentino, é vítima da Síndrome de Asperger, apesar de seu pai que também é seu empresário, negar e ameaçar processar quem o afirmar. Independentemente do sucesso da Argentina na Copa, grande parte de suas qualidades está concentrada no jogador do Barcelona e alguns afirmam que ser autista até lhe favorece o poder de concentração para realizar suas jogadas características. Para além do talento no trato com a bola, o ativista  político italiano, Mario Ferri, se fazendo passar por cadeirante, invadiu o gramado da Arena Fonte Nova no jogo entre EUA e Bélgica  e realizou quase que uma volta olímpica correndo (sem o auxílio da cadeira), para protestar contra a exclusão de crianças faveladas. Ele, que já invadiu alguns campos europeus, pode sofrer severas sanções pelo seu comportamento, pois a FIFA não parece estar   disposta a perdoar sua "boa intenção".                                                                                                          
     Faz-se necessário um olhar ampliado sobre esses dados pois talvez seja o momento no qual o menos se torne mais e desse modo a exclusão social encontre espaço pra ser perspectivada como inclusão na medida em que a bola acaba sendo arremessada em direção a uma meta que até pouco não parecia configurar um gol. A técnica desse jogo é outra, a estratégia evoluiu do simples ataque e defesa de A contra B para ataque às defesas sociais enquanto mecanismos egoicos que nos impedem de compreender que o campo do esporte mais popular do mundo também é um campo político para enfrentar  problemas que não são individuais - por mais que assim se manifestem - são problemas sociais e só socialmente poderão ser resolvidos.  Nesse sentido, o futebol é um esporte único exatamente por ser tão popular e assim sendo, possibilita que a humanidade que nesse momento volta seu olhar sobre ele se torne mais saudável. Eis um gol de placa que pode fazer com que várias torcidas e seleções  acabem ganhando.


sábado, 21 de junho de 2014

Maré Virtual

O peixe que nasce sem asas
no tudo, nada!


Uruguai X Inglaterra

Chamou a atenção a quantidade de torcedores brasileiros se manifestando em favor do Uruguai em função do grande jogo contra a seleção da Inglaterra, com destaque para a atuação de Suárez, "El Matador"! Alguém chegou a dizer que se emocionou mais com o segundo gol do artilheiro do que com os gols do Brasil - emoção que também vivenciei. Um detalhe que deve ser salientado é que nesse momento nenhum desses torcedores, inclusive eu, trouxe para o primeiro plano que Suárez pegou um gancho de oito jogos em 2012 por ofensas racistas contra Patrice Evra num jogo entre Liverpool e Manchester United, muito menos resgatou a lembrança do Maracanaço no qual o Brasil perdeu a Copa de 50 em casa para o Uruguai.

Seria mais fácil apontar que a memória do torcedor é curta, mas também é possível pensar que certas questões dolorosas são superáveis quando o prazer de viver intensas emoções no presente é abraçado plenamente pelo coração. Eis o grande barato do futebol como esporte mais popular do planeta, gerar a superação de traumas, preconceitos e estigmas - ou criar outros - nem que seja por um momento fugaz, porém, de imensa intensidade. Esse é o grande gol que não precisa ser craque para marcar, basta jogar com o coração!


Espanha X Holanda

Não é de hoje que o futebol foi transformado num circo transnacional. Jogadores, principalmente latinos, cada vez mais jovens rumam para a Europa ou para a Ásia, em certos casos tendo pouco contato com sua cultura natal. Isso é aceito mundialmente por quase todos os torcedores sem maiores controvérsias. Entretanto, parte desses mesmos torcedores não consegue transcender o bairrismo quando se trata de disputas entre seleções. É esse tipo de falta de reflexão mais ampla que fez com que, por exemplo, boa parte da torcida na Fonte Nova no jogo entre Espanha e Holanda, vaiasse o brasileiro Diego Costa por vestir a camisa da seleção espanhola. 

O que essa intolerância não consegue assimilar é que se Diego pode ganhar o dinheiro do Atlético de Madri, ele também pode optar por representar a seleção que lhe oferece melhores condições para conquistar seus objetivos. Esse exemplo mostra como parte da população vestiu a camisa do time dos que manifestam sua voz, sua frustração (agora já pode), entretanto, acaba canalizando sua energia pro alvo errado. O problema não é Diego Costa, o problema é a mercadificacão selvagem do futebol e de vários aspectos da nossa vida cotidiana. Se é legal poder vaiar e protestar contra o que se acha errado, é preciso ter mais capacidade de reflexão para não vaiar e protestar contra a parte mais frágil do jogo, já que isso é mais fácil, porém de pouca resolutividade. De modo geral, essa é uma característica dos que aprenderam que podem lutar, mas ingênua e covardemente, lutam contra os mais fracos que muitas vezes estão do mesmo lado do jogo.


Brasil X Croácia

Muitas vezes ao longo da história, foi demonstrado que quem cava, cava a própria cova. Contudo, a história também aponta que, quando quem cava é um malandro, este pode estar cavando em busca de um tesouro escondido. Agora, se o malandro em questão for um brasileiro tirado a moderninho, quem cava, cava um pênalti como fez Fred, e esse é o tesouro que o malandro brasileiro valoriza mais que qualquer Jack Sparrow valorizaria um baú cheio de ouro.


Torre de Babel

Nesse mundo globalizado os frequentadores da Torre de Babel se comunicam cada vez com mais naturalidade. Estava curtindo um rolê pela orla e escutei um papo entre uma suposta nativa e uma possivel gringa. A turista meneava a cabeça positivamente ao que a sua interlocutora completou: "Sim! The best acarajé da vida!". 
Continuei o rolê e todos fomos felizes para sempre. C'est la fucking vie! 



terça-feira, 20 de maio de 2014

Silêncio

O poeta que não encontra palavras em meio aos fatos transforma seu silêncio em poesia.


Palco

Shakespeare versou que a vida é um palco no qual somos todos atores. Para ser um bom ator é preciso saber convencer a si mesmo que você é sua platéia mais exigente.


sexta-feira, 16 de maio de 2014

The Rolling Stones

Antes, Sísifo carregava a pedra montanha acima em sua longa jornada para expurgar os males seus, que no fundo eram os males da humanidade, daquela humanidade que em tenra idade buscou sentir o gosto da liberdade. Em um certo dia, com sua carga homérica nas costas,  Sísifo escorregou no nada e a pedra o levou montanha abaixo. Sísifo rolou com a pedra. Rolou com a pedra, se confundiu com ela e sentiu o mundo girando ao seu redor. Desde então o mundo nunca mais foi mesmo, já que após a queda cessar o mundo continuou a girar cada vez mais rapidamente. Assim, a roda foi reinventada com o ser humano fazendo parte dela. Desse modo, a dialética ganhou corpo no calor do movimento livre da carne e do sangue em contato com a pedra.  A pedra que rolou não criou musgos, não se prendendo ao terreno que poderia paralisá-la, não sendo apenas mais uma pedra no caminho, mas o caminho das pedras. A pedra rolada montanha abaixo com Sísifo criou novos atalhos para novas pedras rolantes,  fazendo com que o mundo girasse em velocidade sempre mais vertiginosa. Hoje, os órfãos de Sísifo estão carecendo de novas pedras, novas quedas, que forjem outros atalhos, outros sentidos. Que rolem as pedras! 

domingo, 4 de maio de 2014

Livro

A maioria das pessoas nunca pensou seriamente em escrever um livro. Mas estar presente numa rede social é estar dando face a um livro cujo gênero não  se define facilmente. É possível que se esteja escrevendo uma história que muitos digitariam sem H, mas que na real é o maior "H". De modo geral, grande parte desses escritores faz citações que não correspondem aos autores, mas vivemos num tempo no qual o direito autoral foi pro espaço, então, muitos não ligam pra isso, até preferem assim. Os que escrevem com as próprias palavras muitas vezes só reproduzem idéias de outros mesmo que não o saibam. Nesse contexto, plágio é algo que se encontra quase que exclusivamente no dicionário.
Seguindo por essas linhas tortas, muitos livros vão sendo escritos, alguns com mais imagens do que texto, outros que inclusive não trazem contextos, só fragmentos, mas ainda assim, dizem que há um hipertexto.
Se o Dr. Punk Freud já disse que: "o vazio é o que nos preenche", é compreensível que muitos preencham as páginas de seus livros com fotos do prato de comida no no boteco da esquina que vira um restaurante chique ou de uma visita ao shopping que se torna um passeio turístico. Sim, se o vazio é o que nos preenche, esse livro que nunca receberá nenhum prêmio literário ainda assim tem tudo pra ser um best seller, principalmente entre aqueles que acham que um texto com mais de uma página é muito longo. Ao fim e ao cabo, são esses mesmos leitores que fazem da face desse livro seu próprio conteúdo.


Tesouro

Não está no Teste de Rorschach, nem na área de trabalho do computador do amigo psiconauta ou na folhinha da borracharia. Talvez esteja no horizonte de quem não precisa dormir pra acordar ou de quem tem uma amante com seios que desafiam a gravidade para como um alpinista escalar. Sim, com certeza não está no livro de autoajuda de quem do outro espera a cura, muito menos no prato de comida de quem sempre está com fome. Está aqui, ali e acolá, naquele lugar no qual os astronautas nunca chegarão, no qual só a ereção da alma te conduzirá ao servir como bússola.



sexta-feira, 2 de maio de 2014

Cãibras no cérebro


Tenho cãibras no cérebro! Esse é um efeito de fabricação que possuo desde sempre e isso me leva a um defeito crônico.  Pra acordar,  me alongo pensando e pensando muito.  Já frequentei academia mas lá eles não ensinam esse exercício, seja academia pra exercitar o que chamam de corpo ou a academia pra exercitar aquela parte do corpo que não parece fazer parte do corpo, aquela parte que chamam de cérebro. Agora, depois desse pequeno exercício que realizei ao escrever 9 ou 12 linhas ainda na cama, as cãibras diminuíram. Vou levantar e exercitar o estômago que sente outro tipo de cãibras chamada fome.


segunda-feira, 28 de abril de 2014

Fala nariz fálico, fala!


Meu nariz de Pinóquio não me deixa mentir. Não há nada de estranho quando psicólogas emitem mensagens de autoajuda em redes sociais como se isso fizesse o mundo entrar nos eixos. Não há bizarrice alguma quando um político dito de esquerda faz uma campanha quase idêntica ao do político dito de direita. Não há o mínimo de incapacidade de reflexão crescente quando jovens acreditam que votar nas caras novas evita que se vote nas velhas idéias. Não pode haver resquício de assombro quando um estudante universitário tem dificuldades para entender um filme se este não for dublado.
Sim, meu nariz de Pinóquio não me deixa mentir. Não existe falta de senso crítico quando se atira uma banana em alguém para chamá-lo de macaco e a resposta mais sapiente que esse alguém encontra é comer a banana, principalmente quando não se tem fome e esse gesto é visto por celebridades como revolucionário. Não existe confusão crescente quando as pessoas acreditam que longas relações são sinônimos de amor verdadeiro e felicidade sem levar em conta a acomodação e o medo das novidades.
É, esse meu nariz de Pinóquio não me deixa mentir...


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Correção

Descobri que  havia alguma coisa estranha com o corretor ortográfico do meu iPad. Quando escrevia: "merda", ele registrava: "beleza". E quando digitava: fodeu!", ele escrevia: "de boa".  Na maioria das vezes quando eu teclava: "não", ele afirmava que: "sim. Quando pensava: "desisto", ele pontuava: mais uma vez". E até quando sentia: "melancolia", ele carimbava: "gozei".             

   Bastante preocupado, consultei o Dr. Punk Freud e ele disse num piscar de olhos: 
- Muito mais que associado a sua ortografia, o corretor do seu iPad confirma o que o chip que está no lugar do seu coração vivencia. O  corretor do seu iPad apenas torna visível o que a tecla no lugar do seu cérebro comanda. Com toda essa intensidade sua bateria não vai durar muito. Mas não se preocupe, na hora de recarregar se certifique que você não está plugado na tomada do passado. Se você seguir esse passo o amanhã vai se tornar hoje, algum dia...


terça-feira, 15 de abril de 2014

Reflexo da Lua Sangrenta!

Observando os gatos que brincam sem se importar com as horas, o Punk Freud  faz uma reflexão durante a madrugada em que a lua sangrenta trafega nos céus: "Os que têm sede que busquem matá-la seguindo o caminho das lágrimas que correm de uma fonte que nunca seca, fonte chamada Vida!"



terça-feira, 8 de abril de 2014

O retorno do Punk Freud


Senhoras e senhores, prazer em conhecê-los. Eu sou o Punk Freud e depois de muito tempo resolvi sair de um sono profundo para dar o ar da minha graça, mas já vou avisando: No para-choque do meu caminhão não tem espaço para Lacan. Claro que não! Frases de efeito não vão tornar mais fácil a curva que suas vidas precisam realizar nesse momento. Quem quiser ampliar o sentido da vida que venha bater de frente, meu para-choque está aqui pra isso.       
Se vocês ainda não sabem a única terapia possível nesse mundo atual é a terapia de choque. Não falo do eletrochoque pois a voltagem das cidades brasileiras é muito baixa para surtir efeito!  Essa proposta que trago também é muito mais impactante do que a terapia de para-choque! Terapia na cultura contemporânea não pode deixar de lado choques de realidades, interesses e valores. Assim sendo, o meu papel é tirar vocês da zona de conforto e perceber se seus cintos de segurança compensam a falta de airbag nesses seus veículos baratos. Esses veículos baratos não são os carros populares, (nem creio que aqueles que  dirigem  veículos populares podem bancar meus serviços) são esses seus corpos frágeis que vão definhando dia após dia, por mais que vocês tentem disfarçar.
Muitos perguntam por que fiquei tanto tempo longe das luzes da ribalta, longe da demanda terapêutica desse mundo que não para de girar em velocidade vertiginosa. Depois falaremos sobre isso, mas por enquanto basta que saibam que deixei o lugar vago para ser ocupado por celebridades da hora bancando os xamãs da salvação, entretanto, parece que a demanda cresceu desproporcionalmente.

Vocês já devem estar achando minha conversa sem sentido, vazia. Vocês podem até estarem certos, afinal, o vazio é o que nos preenche. Venham preencher os seus vazios no divã do Punk Freud. Sempre haverá uma data em minha agenda para vocês. Mais informações, consultem meu agente, ele se chama Mefistófelis!  Até breve, muito breve, afinal, não vai demorar para que a angustia volte a bater em vossas portas.


domingo, 6 de abril de 2014

quarta-feira, 2 de abril de 2014

O assistencialismo não me representa

Em semana que antecede as avaliações, como essa que corre, uma pergunta recorrente ecoa, principalmente, procedendo daqueles que menos se preparam para serem bem sucedidos: “Professor, como vai ser sua prova?”

Como não sou condescendente com a zona de conforto frequentada por boa parte dessa geração que trata o Google como oráculo, sempre respondo:  “Vai ser uma prova com perguntas para vocês responderem”...



quarta-feira, 12 de março de 2014

Aprendendo enquanto se ensina

Hoje ministrei uma aula para uma turma com mais ou menos 25 alunos. O tema era psicanálise e inconsciente e lá pelas tantas alguém falou em sonambulismo.  Uma aluna na primeira fila se empolgou e relatou que seu irmão adolescente certa noite levantou, foi até o quarto dos pais e fez xixi na cara da mãe. Diante da espontaneidade do relato e do espanto da turma, o que mais me chamou a atenção foi a seguinte fala: “minha mãe ficou quieta, esperou que ele acabasse de fazer xixi e só depois que ele pôs o pinto pra dentro ela levantou e limpou a sujeira”. Como um pouco antes eu havia falado sobre o Complexo de Édipo, me dispus a ficar calado simplesmente observando a reação dos presentes  - e esse relato só está sendo feito pois sei que nenhum aluno ou aluna dessa turma acessa meus escritos. Depois da aula, uma aluna bastante perspicaz se aproximou e disse para mim sem que os outros escutassem: “Isso é que é um Édipo bem resolvido”... 


terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Gol contra!

Entre muitas questões polêmicas que rolam no campo cotidiano uma está na marca do pênalti. Há uma campanha em curso que objetiva marcar historicamente o basta, o limite, o fim à aceitação passiva da corrupção e da desigualdade social no país. Essa campanha é  chamada de “Não vai ter Copa”.  Ok, esse bordão pode ser uma simples metáfora, mas observando o entorno da campanha com atenção, mais uma vez, o futebol é confundido com o vilão da história quando muitos não entendem (ou não lhes é facilitado entender) que o futebol não gera corrupção, mas pode ser utilizado por ela, assim como a música, as telenovelas, a religião, o carnaval e a própria politica partidária também o podem.

É  preciso ressaltar que sendo um erro de estratégia política (que para uma minoria é um acerto econômico)  realizar a  Copa do Mundo em um país carente de investimento em vários setores sociais, da educação a saúde, passando pela mobilidade urbana, esse equívoco não é uma questão específica do esporte bretão mas sim da cultura política e econômica dominante. Daí a publicizar  que o futebol é sinônimo de alienação  e por isso deve ser boicotado se incorre em um erro de interpretação, levando a formulação de um falso problema. É como afirmar que se os alimentos estão contaminados por agrotóxicos e o ar está poluído por metais pesados, se deve boicotar o comer e o respirar ao invés de buscar os aspectos desencadeadores dessa dupla poluição para assim tentar administrá-los.

Os esportes fazem parte da cultura, responsabilizá-los pelas deficiências da estrutura cultural  só deixa claro que a miopia coletiva  não permite que se enxergue além das dúvidas, dúvidas estas que acabam funcionando como as grandes certezas.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

domingo, 9 de fevereiro de 2014

A arquitetura dos investimentos faraônicos

Ainda gera perplexidade  observar que alguns estádios de futebol reformados  ou construídos para a Copa do Mundo no Brasil possam custar em média, algo em torno de meio bilhão de Euros, levando em conta que o estádio mais caro da França, o Stade de France,  custou 280 milhões de Euros, e o Olimpiastadium  palco da final na Alemanha em 2006, custou metade desse montante. A questão é: qual o contexto por trás desses investimentos em obras faraônicas? Se observarmos ao longo da história  veremos que, muito mais do que as clássicas obras de arte, são as obras arquitetônicas que marcam uma época. Desde as sete maravilhas do Mundo Antigo até a era Cristã isso foi acontecendo ininterruptamente. No Ocidente Pré-Moderno, as grandes Igrejas marcaram a imponência do projeto que caracterizou a religiosidade como a política vigente na Idade Média.  No século XIX e começo do século XX, as casas de ópera tatuaram a grandiosidade da Modernidade no cenário urbano e mesmo no não urbano – quem assistiu o filme “Fitzcarraldo”  de Herzog, sabe o que está sendo dito.

No começo do século XXI, as arenas, os estádios e os shopping centers mostram os parâmetros da Pós-Modernidade. Se os shopping centers pela sua banalização não são projetos arquitetônicos para serem lembrados num futuro distante, mas para serem cotidianamente vividos no presente, arenas e estádios são construídos para que na posteridade a pujança do passado não seja facilmente esquecida -  os arranha-céus de Dubai, Xangai ou Meca não contam pois suas alturas não os classificam necessariamente como pontos de convivência e interação festiva. Só pra exemplificar, a final do Super Bowl (o futebol americano) é o evento de maior audiência da televisão estadunidense. Esse ano, 111,5 milhões de telespectadores assistiram o evento que gera cifras multimilionárias só na publicidade.

Nesse contexto, não chega a ser tão surpreendente que o atual governo brasileiro queira entrar para a história com arenas e estádios, já que as outras obras ligadas à Copa e (possivelmente) aos Jogos Olímpicos não poderão ser reconhecidas como “benefícios sociais e de infraestrutura permanente”. Permanentes talvez sejam as estruturas arquitetônicas faraônicas e com certeza, a lembrança de seus custos.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Bonitinh@s, mas ordinári@s



Parafraseando Nelson Rodrigues, eu me sinto no direito de afirmar que se dissesse tudo que penso eu estaria preso. Ok, poderia não estar preso, mas essa reflexão aponta no sentido de deixar claro que viver numa suposta democracia não é sinônimo de dizer tudo que se pensa num exercício de liberdade, mas saber que não é proibido pensar e sentir de modo diferente da maioria. O ponto onde o laço pode virar um nó se encontra no momento em que alguns confundem as bolas e dizem qualquer coisa nas redes sociais gerando preconceitos, estigmas e desconforto em nome de uma pretensa liberdade de expressão. 
Como os seres humanos são intrinsecamente seres relacionais, saber atuar democraticamente é ter consciência de que na prática, certos dizeres são antidemocráticos, por mais que se tenha a liberdade teórica de dizê-los. E dialogando dialeticamente com o mestre acima citado, espero que a unanimidade que se interessar em ler esse texto não seja burra e possa entendê-lo.


Imagem: Strong Dream - Paul Klee, 1929


sábado, 18 de janeiro de 2014

Deus existe!


Conheço um cara – ia escrever: “tenho um amigo”,  mas certas relações são difíceis de definir – que por muito tempo foi uma pessoa bastante cínica em relação aos valores sociais, hedonista ao extremo, mas não diria que seu hedonismo fosse consequência do cinismo, pois há pessoas que são uma coisa, mas não são a outra, não necessariamente. Ultimamente já não o vejo com frequência, pois  moramos em cidades distantes. Com o passar do tempo e em relação direta com seu estilo de vida, sua saúde sofreu impactos e danos incontornáveis e nos poucos contatos que temos tido através de uma rede social é perceptível que aquela pessoa que se dizia sempre disposta a encarar a morte, agora tem medo de que a tal morte o abrace na próxima esquina, na próxima ida a um shopping ou mesmo durante o sono.
Um detalhe que me chamou a atenção é que a palavra Deus começou a ser frequente no seu repertório. Não é que antes não o fosse, mas quando surgia na fala era sempre no meio de uma piada amoral e quando aparecia na escrita – sim, porque o cara era fã de Bukowski e tirava onda de poeta pós-beat – era sempre iniciada com letra minúscula. Agora é diferente, ele cita Deus aqui e ali e não parece querer fazer piada ou tirar onda, afirma que Deus surge em sua vida antes de resolver um problema no trabalho, no meio do trânsito e até quando sonha. Ele conclui assinalando que essa relação com Deus o estava salvando da solidão e do medo da morte, cada vez mais presentes.
 Estou escrevendo essa história, pois me lembrei de questões significativas e esclarecedoras em relação ao conhecido acima citado. Muito tempo atrás, em meio a uma bebedeira, ele contou que estava tendo um caso com a mulher de um vizinho  - vale deixar claro que ele era um cara com dificuldades de relacionamento afetivo sexual, tanto que sexo só rolava quando pagava pra isso – e essa mulher marcou sua vida com sua selvageria indomável, com sua ousadia única.  Ele disse que transava com ela na residência do casal quando o marido não estava, mas certa feita eles quase foram flagrados pelo traído. Quase, pois foram salvos pelo cão que latiu advertindo-os da chegada do dono. Por incrível que pareça, a partir de então passaram a correr mais e mais riscos sempre sendo salvos pelos latidos do cachorro, animal pelo qual ele nunca tivera afeto anteriormente, mas que desde então se tornou seu cúmplice, seu oráculo.

 Recentemente lendo sobre a libertação de cães em um instituto de pesquisa em São Paulo certa lembrança que tive me tomou de assalto e algumas peças pareceram se encaixar. O nome do cão dos vizinhos que esse conhecido tantas vezes frequentou era “Deus”. A ficha caiu! Então era isso, ele estava com medo da morte, se sentindo muito só, sentindo falta da mulher do vizinho que lhe fazia sentir-se vivo como nunca e principalmente, sentia falta  da segurança que o Deus sobre quatro patas passava nesse relacionamento que seu cinismo e seu hedonismo nunca conseguiram superar...



Imagem: The Church of Nervous System


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Dando um rolê no lado de fora da invisibilidade

Num recorte social mais específico, o Rolezinho acaba sendo um desdobramento das passeatas que ocorreram em meados do ano passado. Essa maior especificidade reflete uma parcela da população que inicialmente não é identificada com a população universitária ou sindicalizada, bem visíveis naquele momento. Reflete aquela parcela da população que em grande parte está excluída das universidades e dos sindicatos, sendo mais conhecida como aquela com "potencial social" para frequentar prisões e cemitérios; os jovens negros das periferias.
 Nesse momento que a prefeitura de Salvador dificulta o acesso desses para a "zona nobre" da cidade retirando linhas de ônibus que ligavam a periferia aos bairros da Barra e da Pituba (mais uma medida de higiene social na antevéspera da Copa do Mundo) os rolezeiros já começam a se organizar para colocar a cidade no mapa da atividade política feita não por militâncias consolidadas, mas por pessoas que não querem mais estar
condenadas à sombra da invisibilidade social.




Só entre nós!

- Vou te contar um segredo.
- Segredo? Então não conte agora não porque tem gente lendo nossa conversa...



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A poesia não tem palavras diante dos fatos

Que privilégio é poder estar sorrindo.
Que privilégio é poder estar só rindo.
Que privilégio é poder estar.
Que privilégio é poder.
Que privilégio...



domingo, 12 de janeiro de 2014

Dúvidas!?!

Agente (ao pé da letra da língua nativa) seria alguém que passa a ser não-gente?
Pé da letra significa que toda palavra é um organismo com cabeça, tronco e membros?
Um organismo com letras agentes (cabeça, tronco e membros de A a Z) pode ser traduzido como um alfabeto que não forma palavras e não comunica?
E gente alfabetizada é aquela cuja língua tem pé?