quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Brasília, 2 de agosto

O mantra-refrão-palavra-de-ordem que guia o inconsciente da cultura política nacional é: tem(er) que(r) manter isso, viu?

Sobre a ética e a corrupção no cotidiano

Nessa manhã, para muitos uma manhã de luto, o celular tocou às 6:10h. Número desconhecido. Do outro lado uma voz cantada querendo saber qual o meu nome. Achei estranho, pensei logo em golpe e me coloquei em condição de combate - nessas horas o sono cede espaço para que a vigília total entre em ação.  A voz cantada perguntou se eu perdi alguma coisa, e depois pediu pra conferir minha carteira. Pulo da cama, corro até a mochila e não encontro a carteira. Não dormi em casa e lembro que no momento que saltei do carro com volumes nas mãos dei três ou quatro passos para entrar no recinto onde me encontro. Curiosamente, lembro que nesse pequeno percurso não fechei o compartimento da mochila no qual coloquei a carteira. Pego o celular e digo que sim, tem algo faltando. A voz então diz o meu nome completo e pergunta onde trabalho. Hesito em responder por alguns segundos, mas como dei por falta da carteira com algum dinheiro e muitos documentos, respondo.

 A voz cantada pede que eu vá lá fora, percorrendo não mais que 50 metros de distância do carro. Quando chego lá um segurança fardado e um outro civil que trabalham numa agência de segurança ali localizada me chamam e me devolvem a carteira. Verifico que o dinheiro não está. Então, o vigia, também negro e um pouco mais jovem que eu,  tira R$192,00 do bolso e me devolve. Achei que ele me devolveu depois de ter me analisado e ter percebido que eu sou uma "pessoa do bem". Cumprimentei os dois, voltei pra cama e bastante agitado demorei pra retomar o sono. Depois do que aconteceu ontem, em Brasília, fiquei surpreso em perceber que nem todo brasileiro foi infectado pelo vírus da corrupção fácil ao alcance da mão, mesmo quando existe identificação com o outro.