Ainda gera perplexidade observar que alguns estádios de futebol reformados ou construídos para a Copa do Mundo no Brasil
possam custar em média, algo em torno de meio bilhão de Euros, levando em conta
que o estádio mais caro da França, o Stade de France, custou 280 milhões de Euros, e o Olimpiastadium
palco da final na Alemanha em 2006,
custou metade desse montante. A questão é: qual o contexto por trás desses
investimentos em obras faraônicas? Se observarmos ao longo da história veremos que, muito mais do que as clássicas
obras de arte, são as obras arquitetônicas que marcam uma época. Desde as sete
maravilhas do Mundo Antigo até a era Cristã isso foi acontecendo ininterruptamente.
No Ocidente Pré-Moderno, as grandes Igrejas marcaram a imponência do projeto
que caracterizou a religiosidade como a política vigente na Idade Média. No século XIX e começo do século XX, as casas
de ópera tatuaram a grandiosidade da Modernidade no cenário urbano e mesmo no não
urbano – quem assistiu o filme “Fitzcarraldo” de Herzog, sabe o que está sendo dito.
No começo do século
XXI, as arenas, os estádios e os shopping centers mostram os parâmetros da
Pós-Modernidade. Se os shopping centers pela sua banalização não são projetos
arquitetônicos para serem lembrados num futuro distante, mas para serem
cotidianamente vividos no presente, arenas e estádios são construídos para que
na posteridade a pujança do passado não seja facilmente esquecida - os arranha-céus de Dubai, Xangai ou Meca não
contam pois suas alturas não os classificam necessariamente como pontos de
convivência e interação festiva. Só pra exemplificar, a final do Super Bowl (o
futebol americano) é o evento de maior audiência da televisão estadunidense. Esse
ano, 111,5 milhões de telespectadores assistiram o evento que gera cifras
multimilionárias só na publicidade.
Nesse contexto, não
chega a ser tão surpreendente que o atual governo brasileiro queira entrar para
a história com arenas e estádios, já que as outras obras ligadas à Copa e (possivelmente)
aos Jogos Olímpicos não poderão ser reconhecidas como “benefícios sociais e de
infraestrutura permanente”. Permanentes talvez sejam as estruturas
arquitetônicas faraônicas e com certeza, a lembrança de seus custos.