domingo, 9 de fevereiro de 2014

A arquitetura dos investimentos faraônicos

Ainda gera perplexidade  observar que alguns estádios de futebol reformados  ou construídos para a Copa do Mundo no Brasil possam custar em média, algo em torno de meio bilhão de Euros, levando em conta que o estádio mais caro da França, o Stade de France,  custou 280 milhões de Euros, e o Olimpiastadium  palco da final na Alemanha em 2006, custou metade desse montante. A questão é: qual o contexto por trás desses investimentos em obras faraônicas? Se observarmos ao longo da história  veremos que, muito mais do que as clássicas obras de arte, são as obras arquitetônicas que marcam uma época. Desde as sete maravilhas do Mundo Antigo até a era Cristã isso foi acontecendo ininterruptamente. No Ocidente Pré-Moderno, as grandes Igrejas marcaram a imponência do projeto que caracterizou a religiosidade como a política vigente na Idade Média.  No século XIX e começo do século XX, as casas de ópera tatuaram a grandiosidade da Modernidade no cenário urbano e mesmo no não urbano – quem assistiu o filme “Fitzcarraldo”  de Herzog, sabe o que está sendo dito.

No começo do século XXI, as arenas, os estádios e os shopping centers mostram os parâmetros da Pós-Modernidade. Se os shopping centers pela sua banalização não são projetos arquitetônicos para serem lembrados num futuro distante, mas para serem cotidianamente vividos no presente, arenas e estádios são construídos para que na posteridade a pujança do passado não seja facilmente esquecida -  os arranha-céus de Dubai, Xangai ou Meca não contam pois suas alturas não os classificam necessariamente como pontos de convivência e interação festiva. Só pra exemplificar, a final do Super Bowl (o futebol americano) é o evento de maior audiência da televisão estadunidense. Esse ano, 111,5 milhões de telespectadores assistiram o evento que gera cifras multimilionárias só na publicidade.

Nesse contexto, não chega a ser tão surpreendente que o atual governo brasileiro queira entrar para a história com arenas e estádios, já que as outras obras ligadas à Copa e (possivelmente) aos Jogos Olímpicos não poderão ser reconhecidas como “benefícios sociais e de infraestrutura permanente”. Permanentes talvez sejam as estruturas arquitetônicas faraônicas e com certeza, a lembrança de seus custos.