quarta-feira, 11 de julho de 2018

Questão de raça!?!



Como tem sido cada vez mais comum adaptar o discurso racial estadunidense ao Brasil (por exemplo, o colorismo foi pautado pelas redes sociais depois que a negra de pele clara Fabiana Cozza foi "barrada" para o papel da negra de pele escura Dona Ivone Lara sem levar em conta que o Brasil é miscigenado e os EUA não são) talvez seja interessante perceber outros olhares sobre a questão. A Netflix pode ajudar nisso. Nela, duas obras trazem para perto olhares incomuns sobre o tema até em suas terras de origem. 

O primeiro olhar está presente em Atlanta, série estadunidense criada, estrelada e às vezes dirigida por Donald Glover, aquele que quebrou a Internet há pouco tempo com o pseudônimo (ou alterego) de Childish Gambino e seu vídeo viral This is America. Sim, aquele vídeo do jovem negro sem camisa em situações que remeteram a episódios de violência física que marcaram os EUA na última década. Na série exibida pela Netflix é trazido outro tipo de violência, também estrutural, porém muito mais simbólica do que física, a violência embutida na tentativa de ascender socialmente em ambiente onde as oportunidades não são iguais para todos os negros. O personagem de Glover tentar ser o empresário do rapper Paper Boi em situações que num primeiro olhar (quero dizer, num olhar “tipicamente brasileiro”) não trazem nada de engraçado ou filosoficamente relevante. É aí que está o segredo da série, na sutileza com que trata os pormenores das relações cotidianas - quem não tem intimidade com a ironia e o sarcasmo corre o risco de não penetrar na viagem. Certas situações que podem ser pensadas como humilhantes e geradoras de pura estigmatização recebem um tratamento que podem fazer o espectador questionar qual é sua zona de conforto enquanto observador dessa história. Glover consegue ser sutil quando muitos seriam grosseiros.


 
Já no filme Mais uma página, atravessamos o Atlântico na companhia de Kagiso Lediga e vamos parar na África do Sul. Quem aqui sabe alguma coisa sobre a África do Sul além de Mandela e do Apartheid? Esse filme despretensioso de Lediga (também escrito e protagonizado por ele) nos oferece a oportunidade para conhecer esse território, mas mesmo assim nunca se está totalmente preparado para um outro tããão distante. Quem poderia imaginar que os problemas dos negros "não tão pobres" de lá não são tão diferentes dos negros não tão pobres daqui? Sim, porque, o primeiro choque cultural é perceber que um filme que se passa em Joanesburgo não tem como foco os negros pobres dos guetos. O que vemos são negros com um alto padrão de consumo e em um ambiente universitário. Para não sermos spoiler evitaremos detalhes, contudo é o lugar de fala do protagonista que desencadeia as questões centrais do filme, o lugar de fala de um negro de classe média professor universitário problematizador de questões do cotidiano - alguns de vocês até acham que já conhecem esse filme, né? Cuidado! Também nessa obra nada é exatamente óbvio e alguns podem até demorar certo tempo para assimilar o fluxo de ironias! 


De todo modo, entre discursos de fora e de dentro da nossa realidade mais próxima, o olhar de cada um sobre essas obras vai depender das cores que aprendeu a usar no seu cotidiano e das consequências que esse matiz de cores pode oferecer. Nesse sentido assista essas obras e perceba se elas vibram em preto e branco ou de acordo com o colorismo que é ensinado nas redes sociais.



domingo, 8 de julho de 2018

Incontornavelmente

Quando Salvador Dalí, Pablo Picasso, Charlie Chaplin, Monteiro Lobato, Vladimir Nabokov, Clarice Lispector, Woody Allen, Roman Polanski e Vinicius de Moraes são tornados os inimigos da civilidade e aqueles que os combatem são partidários da "Arte de resistência" é sinal que esse mundo deu errado. E muito!