terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Uma obra de fôlego - produzida nos pulmões!

Há alguns anos, uma das minhas falas típicas quando o tempo se impacientava era: "Vou levantar âncora!" Para outros mares, para outros bares, para outros desejos.
No livro que o próprio tempo escreveu é possível ler que âncoras podem significar segurança. Assim como podem significar acomodação e aprisionamento. 
E o tempo se impacientar não era e não é difícil. Às vezes, basta respirar para que isso aconteça. Ou, dizendo de outra forma, se costuma prender a respiração para que o tempo pare, para que seja nosso refém. Mas isso nunca dura o tempo suficiente, logo o ar nos foge sem controle, pois o que é gasoso não quer apodrecer como prisioneiro de nossos frágeis corpos humanos. Então, ficar no mesmo lugar ou levantar âncora e se movimentar é basicamente uma obra de fôlego! Um processo produzido nos pulmões! Se for assim, não é coincidência serem os pulmões que se enchem de água quando se levanta âncora para mares incontornavelmente revoltos que por eles é impossível navegar sem naufragar - se não for com a imaginação.  
Quem não quiser abraçar esse último ponto de vista deve torcer para que as âncoras de sua existência criem raízes mais profundas que o possível de conceber. Para os adeptos dessa postura, os ventos são uma terrível ameaça já que podem provocar a quebra da inércia. Só que o nascer e o estar vivo dos humanos não se reflete em inércia. O que se reflete em inércia inquebrável  é a morte!  Desse modo, o perambular entre o ar respirável que suscita o movimento de contração e de expansão e a água corrente que pode conduzir os desancorados tanto a continentes perdidos quanto a ilhas solitárias seria o sentido do existir?
Talvez seja preciso arriscar levantar âncoras do porto inseguro desse texto para saber. Talvez navegar seja realmente preciso. Talvez viver continue sendo impreciso. Talvez o fôlego que basta e o fôlego que falta possam parir as respostas...talvez.

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