Não é
de hoje que o futebol foi transformado num circo transnacional. Jogadores,
principalmente latinos, cada vez mais jovens rumam para a Europa ou para a
Ásia, em certos casos tendo pouco contato com sua cultura natal. Isso é aceito
mundialmente por quase todos os torcedores sem maiores controvérsias.
Entretanto, parte desses mesmos torcedores não consegue transcender o bairrismo
quando se trata de disputas
entre seleções. É esse tipo de falta de reflexão mais ampla que fez com que,
por exemplo, boa parte da torcida na Fonte Nova no jogo entre Espanha e
Holanda, vaiasse o brasileiro Diego Costa por vestir a camisa da seleção
espanhola.
O que essa intolerância não consegue assimilar é que se Diego pode
ganhar o dinheiro do Atlético de Madri, ele também pode optar por representar a
seleção que lhe oferece melhores condições para conquistar seus objetivos. Esse
exemplo mostra como parte da população vestiu a camisa do time dos que
manifestam sua voz, sua frustração (agora já pode), entretanto, acaba canalizando
sua energia pro alvo errado. O problema não é Diego Costa, o problema é a
mercadificacão selvagem do futebol e de vários aspectos da nossa vida
cotidiana. Se é legal poder vaiar e protestar contra o que se acha errado, é
preciso ter mais capacidade de reflexão para não vaiar e protestar contra a
parte mais frágil do jogo, já que isso é mais fácil, porém de pouca
resolutividade. De modo geral, essa é uma característica dos que aprenderam que
podem lutar, mas ingênua e covardemente, lutam contra os mais fracos que muitas
vezes estão do mesmo lado do jogo.