Fechados em uma sala de espelhos buscamos encontrar as saídas das entradas centrais e os fins dos princípios que nos regem. Os espelhos refletem a solidão que vem de fora, das ruas invertidas com a chuva de verão caindo de baixo pra cima. Um raio de sol entra por uma fissura em alguma das superfícies espelhadas e a sala se transforma em caverna de Platão, em mesa cirúrgica sem anestesia, em útero juvenil.
Lá fora, só há futebol e carnaval na Praça dos 3 Poderes. As igrejas e as escolas estão vazias, as estações de ônibus e metrô são estações-fantasma. Fechados em uma sala de espelhos o 5G é o único ponto de prazer, conexão em looping com o Pix. As saídas e as entradas centrais se confundem com os fins e os princípios que nos regem como um maestro cego e surdo fazendo a orquestra tocar por empatia.
A música toca nossa alma enevoada e assim sabemos que estamos no metaverso que é um universo cheio de espelhos em sentido reverso, onde os de fora refletem nos de dentro sua nudez espiritual amorfa e invasiva, num jogo infantil com regras adultas: não se pode desistir de dançar conforme a música e quem perde o passo se torna uma imagem que já não reflete.
Metaverso, multiverso, universo são camadas de uma cebola que nos fazem chorar quando tentamos despi-las com uma faca sem poder de corte. Temos a faca, mas não temos o queijo, temos apenas espelhos que como cebola cortada nos deixam em prantos quando temos coragem para abrir os olhos vermelhos e míopes.