quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A Missão!





Não é difícil perceber que ano após ano aumenta a quantidade de estudantes evangélicos em cursos universitários. Na instituição na qual leciono, em cursos como Psicologia e Fisioterapia, é impossível não perceber que muitas vezes alguns alunos acreditam que a saúde das pessoas que futuramente estiverem sob seus cuidados será guiada pela mão de Deus. Entre meus colegas docentes tal situação gera desconforto, pois parece apontar que tais estudantes se eximirão de assumir a responsabilidade relacionada aos seus procedimentos e que também negarão alguns pressupostos científicos em função de seus valores morais.
Como a parcela da população que abraça as diretrizes pentecostais é a que mais cresce e continuará crescendo no país, é ingênuo virar as costas para esse fenômeno e simplesmente encarar tal alunado com preconceitos, como por exemplo, serem tão fundamentalistas que não estão abertos ao diálogo. Esse é o momento para trazer a perspectiva ética para as temáticas trabalhadas em sala de aula e, dialogicamente, favorecer o alargamento da visão dos que chegam sobrecarregados com pontos de vista moral.  Nas minhas aulas, percebo no final do semestre que alguns alunos chegam a expressar verbalmente que estão “enxergando o mundo com outros olhares”, diferentes daqueles que suas famílias e suas Igrejas lhes ensinaram a usar. Claro que esse processo não é fácil, há vários atritos, principalmente por  debatermos questões de ordem política que não podem ser elaboradas pela moral do Bem e do Mal, do certo e do errado, mas sim respeitando as subjetividades dos sujeitos envolvidos. Assim, discutimos corrupção, uso e tráfico de drogas, sexualidade, violência e outras questões que perpassam o cotidiano sem buscar culpados ou inocentes, mas sim contextualizar as situações nas quais as injustiças sociais solapam a Democracia.
Se esse processo educacional não tiver lugar nas instituições universitárias, é melhor desistir de acreditar na possibilidade de um país melhor, pois mudanças não acontecem simplesmente elegendo candidatos, mudanças são construídas na prática cotidiana, principalmente em conjunto com as pessoas que estão buscando seu lugar ao sol e que acreditam que estão aqui com a missão de propagar o Bem, seja ele qual for. 

Imagem: Gorky - Batalha ao pôr-do-sol com o Deus de Maize