terça-feira, 26 de agosto de 2014

O luxo e o lixo

Pegando carona em Oscar Wilde, quando esse aponta que a verdadeira arte deve ser inútil, o que está em jogo  é o cancelamento de seu sentido utilitário ou de sua estética ligada a higienização do olhar (e do perceber, de modo geral) que se identifica rapidamente com suaves harmonias. Certa vez uma amiga disse que os grafiteiros deveriam embelezar as ruas da cidade. Um outro amigo replicou que uma boa arte não tem esse compromisso, podendo até tornar as ruas mais feias. Sim! O comprometimento político da arte está em fazer refletir sobre o tempo que vivemos  gerando um certo incômodo, jogando o ser numa certa zona de desconforto. Cancelar o sentido óbvio do que é facilmente agradável pode nos mostrar nossa própria inutilidade,  assim como a feiura socialmente construídas na medida em que somos levados quase sempre a consumir o que a cultura dominante estabelece como aquilo que deve ser lixo e o que deve ser luxo. Vale lembrar que do lixo pro luxo a diferença é de apenas "uma letra". Não por acaso muitos artistas contemporâneos usam o lixo como matéria prima. Não por  acaso o luxo depende da moda. Arte que não é politicamente provocativa não é arte, é apenas bem de consumo e bem de consumo que se preze rapidamente vira lixo pra que outro bem seja luxuosamente colocado em seu lugar. 

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