domingo, 17 de junho de 2012

A revolução e suas armas

Há uma postagem circulando no Facebook com os dizeres: “A revolução não será televisionada.”  Por tabela, isso parece indicar que a revolução será “facebookada” na medida em que atualmente o FB é a ferramenta de maior representação das redes sociais – em números sua “população” só perde pra população da Índia e da China. Sim, com certeza há mais interatividade no FB do que na relação controle remoto na mão/TV. Entretanto,  maior interatividade não significa necessariamente que as relações de poder (ou se preferirem, as relações entre os humanos) foram redimensionadas.
Não é difícil perceber que muitos usuários continuam se colocando diante - ou dentro – do FB como o fariam diante de um televisor, reproduzindo automaticamente valores e posturas pouco revolucionárias. O uso das ferramentas curtir, comentar e compartilhar exemplifica bem a questão. Necessariamente, o que se curte, comenta ou compartilha não é aquilo que mais ressigificou uma leitura da realidade cotidiana ou balançou uma emoção cristalizada. Muito mais do que o que foi postado, vai depender de quem postou, da empatia para com essa pessoa, ou para com a “entidade” por trás de muitas citações, (tantas vezes falsas) que são postadas. Alguém com certo carisma entre seus “amigos facebookianos”, vai ser curtido, comentado e mesmo compartilhado, simplesmente quando posta que acordou com o pé esquerdo ou que viu certo filme – mesmo sem fazer nenhum comentário mais esclarecedor sobre tal película.
Assuntos polêmicos podem gerar o efeito contrário. Não faz muito tempo que postei um texto, O DNA da fé, no qual faço minha leitura sobre a gênese da religião me posicionando como um ateu de fé. Alguns interpretaram como se fosse uma tirada de onda com os religiosos, principalmente sendo um texto escrito por um baiano na Bahia – terra, onde dizem ser impossível não sustentar alguma postura religiosa. O resultado perceptível foi que alguns “amigos facebookianos” se afastaram. Vale lembrar que uma pesquisa realizada no país em 2009 pela Fundação Perseu Abramo indicou que as pessoas que mais são antipatizadas pelos brasileiros (por 39% destes) são os ateus.
Bem, se existe alguma revolução que usa o FB como arma essa revolução poderia ser menos auto defensiva – eu não tenho nenhum problema com meus amigos que sustentam suas crenças, agora, quando falo amigos não me refiro aos que solicitaram minha amizade (muitas vezes desconhecidos e que nunca enviaram nenhuma mensagem de reconhecimento) para quantificar a sensação de que são bem quistos e consecutivamente menos infelizes, me refiro aos que sabem que nessa viagem sem roteiro chamada vida  eu não  me preocupo em agradar gregos e baianos para ser curtido, comentado e compartilhado...
Revolução não se faz simplesmente por ter nas mãos ferramentas high ou low tech, revolução se faz com ideias que se tornam valores e a partir daí acoplam ferramentas, não o contrário. E se a partir desse texto meu número de “amigos facebookianos” diminuir, terei certeza que a suposta revolução está no caminho de quem caminha e não de quem impreterivelmente espera pela carona no bonde dos Zuckerbergs da hora...



2 comentários: