Não sou poeta, às vezes triste, às vezes alegre e quando não, minto. Não sei definir tristeza, nem alegria, apenas minto fazendo de conta que sou poeta. Minto com classe, com pompa, minto na cara da verdade com elegância, pois sou educado mesmo sem ter lido o Livro.
Disseram um dia que eu seria político, advogado, profeta, mas como o emblema da palavra não bastou pra fazê-la falar, acordado decidi calado me dizer poeta, pois não há verso longo mais eloquente que o silêncio curto nem há texto curto mais envolvente que o silêncio longo. Foi então que certa noite eles trouxeram o Livro e lá estava escrito: “todo artista é um canibal, todo poeta é um ladrão”.
Diante do silêncio o barulho fez sentido. Virei rebelde, virei travesso, virei pelo avesso, mas nem cheguei perto do efeito; meu verso não soava direito e pela sintaxe eu não tinha respeito, só que o branco pede o preto e um fulano meio cego me achou legal e um cicrano meio surdo me achou bacana: “eu não entendo o que você fala, nem discordo do que você diz, mas é realmente porque em você fala o poeta!”
Entre espelhos imodestos senti repulsa pelo verso desenhado por minhas mãos e Eles ainda juraram que tal sina era infinita. Se a carreira eu abandonasse como Poeta Maldito me venderiam com sucesso, ou mesmo se dramaticamente eu me matasse muitos aí facilmente achariam um poético suicídio. Em vez de eu virar poeta, a mentira virou verdade, eu, um profeta sem legado, mas cadê a felicidade? Minha vida um poema trágico se tornou enquanto nem mesmo cômico meu verso soou. Será Deus o verdadeiro poeta e eu fruto de sua imaginação? Ou será o Diabo aquele que escreve através de minha mão?
* dia da poesia
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