sábado, 18 de janeiro de 2014

Deus existe!


Conheço um cara – ia escrever: “tenho um amigo”,  mas certas relações são difíceis de definir – que por muito tempo foi uma pessoa bastante cínica em relação aos valores sociais, hedonista ao extremo, mas não diria que seu hedonismo fosse consequência do cinismo, pois há pessoas que são uma coisa, mas não são a outra, não necessariamente. Ultimamente já não o vejo com frequência, pois  moramos em cidades distantes. Com o passar do tempo e em relação direta com seu estilo de vida, sua saúde sofreu impactos e danos incontornáveis e nos poucos contatos que temos tido através de uma rede social é perceptível que aquela pessoa que se dizia sempre disposta a encarar a morte, agora tem medo de que a tal morte o abrace na próxima esquina, na próxima ida a um shopping ou mesmo durante o sono.
Um detalhe que me chamou a atenção é que a palavra Deus começou a ser frequente no seu repertório. Não é que antes não o fosse, mas quando surgia na fala era sempre no meio de uma piada amoral e quando aparecia na escrita – sim, porque o cara era fã de Bukowski e tirava onda de poeta pós-beat – era sempre iniciada com letra minúscula. Agora é diferente, ele cita Deus aqui e ali e não parece querer fazer piada ou tirar onda, afirma que Deus surge em sua vida antes de resolver um problema no trabalho, no meio do trânsito e até quando sonha. Ele conclui assinalando que essa relação com Deus o estava salvando da solidão e do medo da morte, cada vez mais presentes.
 Estou escrevendo essa história, pois me lembrei de questões significativas e esclarecedoras em relação ao conhecido acima citado. Muito tempo atrás, em meio a uma bebedeira, ele contou que estava tendo um caso com a mulher de um vizinho  - vale deixar claro que ele era um cara com dificuldades de relacionamento afetivo sexual, tanto que sexo só rolava quando pagava pra isso – e essa mulher marcou sua vida com sua selvageria indomável, com sua ousadia única.  Ele disse que transava com ela na residência do casal quando o marido não estava, mas certa feita eles quase foram flagrados pelo traído. Quase, pois foram salvos pelo cão que latiu advertindo-os da chegada do dono. Por incrível que pareça, a partir de então passaram a correr mais e mais riscos sempre sendo salvos pelos latidos do cachorro, animal pelo qual ele nunca tivera afeto anteriormente, mas que desde então se tornou seu cúmplice, seu oráculo.

 Recentemente lendo sobre a libertação de cães em um instituto de pesquisa em São Paulo certa lembrança que tive me tomou de assalto e algumas peças pareceram se encaixar. O nome do cão dos vizinhos que esse conhecido tantas vezes frequentou era “Deus”. A ficha caiu! Então era isso, ele estava com medo da morte, se sentindo muito só, sentindo falta da mulher do vizinho que lhe fazia sentir-se vivo como nunca e principalmente, sentia falta  da segurança que o Deus sobre quatro patas passava nesse relacionamento que seu cinismo e seu hedonismo nunca conseguiram superar...



Imagem: The Church of Nervous System


quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Dando um rolê no lado de fora da invisibilidade

Num recorte social mais específico, o Rolezinho acaba sendo um desdobramento das passeatas que ocorreram em meados do ano passado. Essa maior especificidade reflete uma parcela da população que inicialmente não é identificada com a população universitária ou sindicalizada, bem visíveis naquele momento. Reflete aquela parcela da população que em grande parte está excluída das universidades e dos sindicatos, sendo mais conhecida como aquela com "potencial social" para frequentar prisões e cemitérios; os jovens negros das periferias.
 Nesse momento que a prefeitura de Salvador dificulta o acesso desses para a "zona nobre" da cidade retirando linhas de ônibus que ligavam a periferia aos bairros da Barra e da Pituba (mais uma medida de higiene social na antevéspera da Copa do Mundo) os rolezeiros já começam a se organizar para colocar a cidade no mapa da atividade política feita não por militâncias consolidadas, mas por pessoas que não querem mais estar
condenadas à sombra da invisibilidade social.




Só entre nós!

- Vou te contar um segredo.
- Segredo? Então não conte agora não porque tem gente lendo nossa conversa...



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

A poesia não tem palavras diante dos fatos

Que privilégio é poder estar sorrindo.
Que privilégio é poder estar só rindo.
Que privilégio é poder estar.
Que privilégio é poder.
Que privilégio...



domingo, 12 de janeiro de 2014

Dúvidas!?!

Agente (ao pé da letra da língua nativa) seria alguém que passa a ser não-gente?
Pé da letra significa que toda palavra é um organismo com cabeça, tronco e membros?
Um organismo com letras agentes (cabeça, tronco e membros de A a Z) pode ser traduzido como um alfabeto que não forma palavras e não comunica?
E gente alfabetizada é aquela cuja língua tem pé?