Assim como política, futebol e religião, o estupro também é cultura,
uma cultura que passa pelas meninas que hoje são mães e não se lembram que foram fãs da Xuxa,
um tipo de cultura que passa trincando a TV quando os noticiários exibem que o SUS pede socorro aos planos privados de saúde,
um modelo cultural que faz um trajeto incólume pela realização das olimpíadas nas quadras e raias que são berçários da microcefalia,
uma referência de cultura que chega e fica tranquila e favorável quando se diz que é normal frequentar escola sem ter merenda no recreio,
uma cultura repaginada que chega e fica de boa no bolso do cidadão que paga os maiores impostos e recebe os menores salários,
uma cultura sedutora que deita e rola quando o bandido bom é escolhido para ser o algoz do bandido mau,
é uma cultura que se renova e se consagra quando o jornal mais vendido apaga hoje a notícia que escreveu ontem,
é um status cultural que se projeta e agrega valores ao apontar que somos filhos da virgem que não escolheu seu par,
uma cultura de mercado que se multiplica e condensa discípulos quando no lugar do Estado laico existe uma Igreja próspera,
um processo cultural que gera pertencimento quando estudantes universitários discutem em redes sociais que a garota currada e o gay morto fizeram por merecer...
Ah sim, cultura é o que não nos falta, senhoras e senhores. E o estupro mais silencioso acontece quando nos falta sabedoria para lidar com tanta cultura sem mostrar nossa infinita ignorância!
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