Nos últimos dias a relação entre o fálico mundo dos esportes e a sexualidade vem ganhando possibilidades de questionamento e ressignificação. Se por um lado, uma declaração do ícone olímpico Yelena Isinbayeva (e também sex symbol numa área na qual geralmente as mulheres são estereotipadas como pouco femininas) reforçou uma certa aversão aos gays q por respeito a "identidade" da Rússia, deveriam se manter dentro do armário. Essa declaração causou amplo mal-estar ao redor do globo, inclusive, tal mal-estar a fez recuar, ao se declarar mal interpretada. Por outro lado, o gesto do jogador de futebol corinthiano, Emerson Sheik, ao dar um selinho num amigo (q aparentemente nem é gay) não foi menos polêmico. Enquanto seus colegas de clube curtiram numa boa, alguns torcedores foram ao Centro de Treinamento protestar com cartazes q diziam "viado não", "aqui é lugar de homem".
Quando questões como essas começam a sair do armário e entrar em campo cada qual tem direito de se manifestar de acordo com seus valores (em tese, tais manifestações ganham contornos democraticamente legítimos quando não atropelam os valores de outros). Contudo, a fala de Isinbayeva foi uma crítica aos gays dentro do contexto público russo, enquanto o gesto de Sheik aconteceu no seu espaço privado se referindo a sua imagem pública. Assim sendo, Isinbayeva tentou ditar uma regra moral determinando o certo e o errado para ser praticado no espaço público. Já Emerson Sheik usou o espaço público para afirmar q sua vida privada não é refém da moral dominante: "era o Emerson pessoa, não o jogador", como ele posteriormente apontou como precisão ética.
No atual contexto em q imagens midiaticamente difundidas valem mais q centenas de dissertações e teses, as palavras da primeira foram um salto pra trás enquanto o gesto do segundo foi um gol de placa. Está na hora do mundo dos esportes entrar no Século XXI (o debate cercado de hipocrisia sobre o uso de doping é outra área nevrálgica nesse embate), pois as varas e as bolas do mesmo jeito q fazem ganhar, podem fazer perder, principalmente quando se busca atingir uma meta q já foi superada pelo correr do próprio tempo social. A(s) cultura(s) cada vez mais precisa(m) de ética e cada vez menos de moral.
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