Dois filmes q estão chamando a atenção
no começo de 2013 são Django Livre e Lincoln.
Há muitos pontos entre os dois q podem ser linkados. Pra começar, ambos
os títulos trazem os nomes dos personagens centrais, acontecem num período
histórico próximo e sustentam a questão da escravidão como eixo – claro, além de
serem blockbusters. Mas esses pontos os aproximam até certo limite, limite q
não deve fazê-los serem interpretados com os mesmos referenciais.
Pra começar, Django Livre não deve ser interpretado pela perspectiva histórica,
pois se assim for feito, muitos poderão ter dificuldades para adentrar no
universo criado por Tarantino – como já aconteceu com Bastardos Inglórios, sobre o qual ouvi comentários execrando-o já q: “Hitler não morreu incinerado num cinema”. Mas essa busca por referências históricas
ainda acontece. Entretanto, se Django
Livre não deve ser visto como uma aula de história há elementos históricos
em suas entrelinhas.
Esses dias, ouvi um comentário de
alguém incomodado com Jamie Fox – ator q interpreta Django - achando-o inexpressivo,
apático para um escravo em busca de vingança e sendo assim, o ator correto para
o papel seria... Will Smith! Claro q uma das questões mágicas do cinema, é
permitir q o espectador projete na tela sua própria “viagem”, mas acreditar q a
performance do ator está livre do dedo do diretor é outra coisa. A postura de Fox na pele do personagem, durante
quase todo o filme, é a de ser suporte para os personagens de C. Waltz, D. Johnson,
L. De Caprio e S.L. Jackson q dominam as cenas nas quais estão presentes. O q
isso pode indicar? Pode indicar alguém q durante boa parte de sua vida foi deixado
em segundo plano, como era comum acontecer com os escravos, sem expressão
protagonizante ou carismática. O filme
se chamar Django Livre não quer dizer
q o personagem seja livre durante todo o filme, e isso só acontece na parte
final, quando aí sim, ele se torna o protagonista.
Já Lincoln, pode e deve ser interpretado como um filme histórico. Se Django Livre acontece às vésperas da
Guerra de Civil estadunidense, Lincoln,
cujo homônimo indiscutivelmente é o protagonista em todas as cenas, acontece durante
a guerra. Um dos aspectos centrais do personagem principal – mais uma interpretação
hipnotizante de D.D. Lewis - reeleito
para o seu segundo mandato como presidente, é a luta pela abolição. Diferentemente do q vem sendo dito sobre a
película, o objetivo central do Presidente Lincoln é reestabelecer a união da Nação
e não a abolição. Isso não deve ser interpretado como usar a abolição apenas
para reestabelecer a união, pois seu interesse em torno da extinção da escravidão é legítimo, mas a Nação está acima dos homens.
Sendo um filme de Spielberg, é curioso notar q quase
não há ação, o q não é muito comum em sua obra. Talvez não se deva esperar um filme de ação
quando o personagem central é um presidente, mas se lembrarmos q em 2012 foi
exibido um filme chamado “Abraham Lincoln – caçador de vampiros”, na cabeça de alguns ou mesmo de muitos espectadores
talvez ação tenha sido o esperado. Não
por acaso vi alguns espectadores saindo antes do fim, possivelmente por ser um
longo filme com longos diálogos. Já o
filme de Tarantino está batendo recordes de público em relação aos filmes do
diretor no país, a ponto de ter algumas versões dubladas, o q não é comum para
um filme q não é infantil. A ação desse filme também difere dos filmes anteriores de Tarantino em grande parte
por ser trabalhada num roteiro mais linear – sim, não há histórias múltiplas nem
diálogos enigmáticos – e concentrada em algumas cenas, não na maioria.
Por fim, não deixa de ser perceptível q ambos os filmes estão em
evidência no momento em q Obama começa seu segundo mandato. O q isso quer
dizer? A realidade histórica é diferente da realidade fílmica, mas há interpenetrações e o público nem sempre percebe a fronteira. Com certeza Obama não é Lincoln nem
é um ex-escravo em busca de vingança, mas como os espectadores q assistiram ambos
os filmes saem dos cinemas passam a encarar a realidade da reeleição de um
presidente negro no chamado “pais mais poderoso do planeta”? Vão esperar respostas nas políticas públicas estadunidenses?
Vão esperar respostas na premiação do Oscar? E aqui no Brasil, vamos passar a
entender as relações étnicas e raciais por um ângulo diferenciado? Ou será q
vamos esperar a continuação de algum desses filmes pra saber?
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