Ao assistir a entrevista que Oprah Winfrey
realizou com Lance Armstrong, o ciclista sete vezes vencedor da Volta da França
retroativamente acusado de doping, uma questão chamou a atenção. Em meio às repetidas
tentativas de Oprah para arrancar de Lance uma confissão de culpa, já que por
anos ele negou o doping, em algum
momento ela pergunta se o que ele fez não foi uma tentativa de obter vantagem
sobre seus concorrentes. Armstrong
responde que o seu objetivo foi uma
tentativa de se igualar aos outros. Ela atropela essa resposta e continua
buscando a confissão de uma atitude antiesportiva, antiética, o que aos poucos foi
acontecendo. Essa fala de Lance sobre “busca
por igualdade” extrai do subterrâneo algo que alguns especialistas na área
apontam e que também não é muito escutado: Desde os Jogos Olímpicos de
Barcelona em 1992, praticamente nenhum recorde é quebrado sem o uso de
substâncias ilegais. Mas se o uso de doping é tão comum, por que esse escândalo
agora?
Vale apontar que só a partir de meados
de 2005, as condições tecnológicas permitem detectar o que até então era
chamado de doping invisível – e no caso de Lance, como amostras de sua urina
foram congeladas a partir de 1999, foi possível realizar análises que levaram a
resultados retroativos. Nessa configuração, é preciso ressaltar que ele venceu
a prova mais badalada do ciclismo por sete vezes – algo sem precedentes – e,
como ele mesmo diz repetidamente na entrevista, era um cara muito
arrogante, a ponto de defensivamente,
processar durante todo esse período, muitos dos que levantaram alguma suspeita
sobre sua idoneidade. Mas a questão central não pode ser esquecida, o doping está tão infiltrado em meio as
performances de ponta que novas substâncias continuarão sendo elaboradas em
laboratórios para burlar as tecnologias antidoping, pois em caso contrário os Jogos
Olímpicos não trarão muitos recordes quebrados, e, numa sociedade competitiva
como a atual, isso seria uma prova de fracasso na eterna busca por superação
dos limites do ser humano. Isso faria, por exemplo, a Nike vender menos, o
Gatorade lucrar menos, o ESPN faturar menos, etc...
Muito além da busca de Armstrong
por vitórias é preciso atentar que é o atual modelo vigente na Cultura de
Consumo que forja o doping, assim como
forja sua condenação. Assim, um simplório julgamento moral do comportamento de
Armstrong, será reforçar a culpa de um. Uma leitura ética desse contexto pode
indicar que a responsabilidade é de muitos, principalmente dos que trabalham
nos bastidores, como por exemplo: nos laboratórios, nos comitês olímpicos, nos
congressos e nas agências de publicidade.
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