Não é difícil perceber que ano
após ano aumenta a quantidade de estudantes evangélicos em cursos
universitários. Na instituição na qual leciono, em cursos como Psicologia e
Fisioterapia, é impossível não perceber que muitas vezes alguns alunos
acreditam que a saúde das pessoas que futuramente estiverem sob seus cuidados
será guiada pela mão de Deus. Entre meus colegas docentes tal situação gera desconforto,
pois parece apontar que tais estudantes se eximirão de assumir a
responsabilidade relacionada aos seus procedimentos e que também negarão alguns
pressupostos científicos em função de seus valores morais.
Como a parcela da população que
abraça as diretrizes pentecostais é a que mais cresce e continuará crescendo no
país, é ingênuo virar as costas para esse fenômeno e simplesmente encarar tal
alunado com preconceitos, como por exemplo, serem tão fundamentalistas que não
estão abertos ao diálogo. Esse é o momento para trazer a perspectiva ética para
as temáticas trabalhadas em sala de aula e, dialogicamente, favorecer o
alargamento da visão dos que chegam sobrecarregados com pontos de vista moral. Nas minhas aulas, percebo no final do semestre
que alguns alunos chegam a expressar verbalmente que estão “enxergando o mundo
com outros olhares”, diferentes daqueles que suas famílias e suas Igrejas lhes
ensinaram a usar. Claro que esse processo não é fácil, há vários atritos,
principalmente por debatermos questões
de ordem política que não podem ser elaboradas pela moral do Bem e do Mal, do
certo e do errado, mas sim respeitando as subjetividades dos sujeitos envolvidos.
Assim, discutimos corrupção, uso e tráfico de drogas, sexualidade, violência e
outras questões que perpassam o cotidiano sem buscar culpados ou inocentes, mas
sim contextualizar as situações nas quais as injustiças sociais solapam a
Democracia.
Se esse processo educacional não tiver lugar nas
instituições universitárias, é melhor desistir de acreditar na possibilidade de
um país melhor, pois mudanças não acontecem simplesmente elegendo candidatos,
mudanças são construídas na prática cotidiana, principalmente em conjunto com
as pessoas que estão buscando seu lugar ao sol e que acreditam que estão aqui
com a missão de propagar o Bem, seja ele qual for.
Imagem: Gorky - Batalha ao pôr-do-sol com o Deus de Maize
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