A obsolescência programada é uma
das características mais duradouras da Cultura de Consumo, pra não dizer q é
sua característica central. Os produtos já nascem com validade vencida, e, diferentemente
dos organismos animais e vegetais, essa validade não é vencida pela fadiga
processual do sistema orgânico, mas em função da sobrevida do sistema econômico
e cultural q o gera. Assim, automóveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos
duram menos do q potencialmente poderiam durar, para q sejam descartalizados e substituídos
por outros modelos tecnologicamente mais sofisticados, o q assegura a sobrevida dos fabricantes. Às vezes são substituídos sem mesmo apresentarem problemas, basta q surjam novos modelos com variações mínimas. O processo está
tão naturalizado q, por exemplo, o espanhol Benito Muros recebeu sérias ameaças
por ter desenvolvido uma lâmpada de longa durabilidade, na prática cancelando a máxima “Fiat
Lux”.
Outro aspecto central da Cultura
de Consumo e q geralmente não está tão relacionado à obsolescência programada é
q as relações e os sentimentos também devem ter uma data de validade não muito
longa, pois assim asseguram q os vínculos, num curto prazo, gerarão menos
desconfortos por haver menos comprometimento. Quanto menor for o comprometimento
vincular entre um sujeito e outro, mais fácil vai ser guiar as demandas dos
sujeitos de um objeto de consumo a outro de modo substitutivo. Dessa forma, as
relações entre sujeitos cada vez mais serão intermediadas por relações com objetos
q precisam ser trocados num prazo cada vez mais curto incluindo os pontuadores
do q é normal e do q é patológico nas interações sociais. A cada dois ou três
anos a Indústria dos fármacos psiquiátricos surge com um novo transtorno mental
e consequentemente com novos remédios para combatê-lo (hoje, quase todo mundo é
bipolar, quase toda criança é hiperativa, etc), Na política, esse raciocínio se
aplica ao q é normal e ao q é desviante. A cada mandato vencido vemos q os
políticos eleitos fracassaram e precisam ser substituídos por outros q não são
muito diferentes dos q os antecederam, repetindo
o processo nas próximas eleições, e assim segue, ad infinitum.
Só uma coisa não muda: A mudança tem q ser eterna. Remetendo a Filosofia Clássica, percebe-se q Parmênides (grosso modo considerado o teórico
da permanência) e Heráclito (considerando o teórico da mudança) não estão mais
em oposição - particularmente acredito q nunca estiveram-, e sim fazendo parte
de uma nova percepção: Enquanto não houver uma mudança realmente dialética nas relações
de poder as mudanças q ocorrerem não mudarão quase nada a não ser de um objeto de
consumo para outro, sendo q a satisfação gerada por ambos já nasce com validade
vencida. Eis uma questão q não parece ter prazo de validade para ser resolvida.
Imagem: Umberto Boccioni
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